Por monica.lima

O convite do prefeito do Rio, Edudardo Paes (PMDB), ao deputado federal Fabiano Horta (PT) para integrar o seu governo, na Secretaria de Desenvolvimento Econômico Solidário, funcionou como um tiro no pé do governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB). O pedido havia sido feito a Paes pelo ex-presidente Lula, a fim de que o suplente Wadih Damous pudesse assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados. A avaliação do PT é que o partido não tem um nome para brigar contra a atuação do juiz Sérgio Moro e do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, como noticiou a coluna “Informe do Dia”, do jornal O Dia. Wadih, que é membro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), cumprirá esse papel.

O presidente regional do PT e prefeito de Maricá, Washington Quaquá, estava em conversas avançadas com o deputado estadual Jorge Picciani, que comanda o PMDB-RJ, para que as deputadas petistas Benedita da Silva (federal) e Rosângela Zeidan (estadual, mulher de Quaquá) fossem para as secretarias de Estado de Cultura e Assistência Social. Pezão, então, veio a público anunciar que o PT não voltaria a seu governo — o que foi visto por aliados de Picciani no PMDB como uma atitude presunçosa.

O problema não é decorrente da falta de diálogo entre PMDB e PT, que deixou o governo Pezão no ano passado para lançar Lindbergh Farias (PT) ao governo do Estado. Embora publicamente o discurso seja de gratidão eterna, Pezão tem reclamado em seu círculo mais íntimo, de Piraí, que seu antecessor, Sergio Cabral, “raspou o tacho” dos cofres estaduais. Segundo diz a amigos, a situação do Rio poderia estar melhor, apesar da difícil conjuntura econômica. Falta dinheiro para pagar até as contas de telefone, o que fez com que a Oi, que acusa o Estado de dever R$ 170 milhões, cortasse os telefones do Palácio Guanabara.

Outro incômodo de Pezão é com a interferência política de Cabral, via Jorge Picciani, em seu governo. O acordo que daria as secretarias ao PT desagradou o governador, que não foi consultado previamente sobre as conversas entre Quaquá e Picciani e vetou a iniciativa. Ainda de acordo com interlocutores, neste momento a desculpa de Pezão aos petistas foi que, em seu governo, quer somente os partidos que estiveram ao seu lado durante a campanha eleitoral. Entretanto, afirmam essas fontes, a negativa serviu para enviar um recado a Sergio Cabral de que o governo está sob novo comando. No PT fluminense, o comentário é de que “não tem mais clima” para a reaproximação.

“Diante da resposta de Pezão a Quaquá, Paes acenou para Lula, resolveu o problema e ganhou pontos. A conversa, agora, é toda com ele e com Picciani, e visa à eleição para prefeito, de modo que o PT apoie o candidato de Paes, o deputado federal Pedro Paulo (PMDB)”, disse uma fonte, acrescentando que o PT não irá pressionar na investigação do Superior Tribunal de Justiça sobre a suposta participação de Pezão no esquema de corrupção da Petrobras.

Também pesou contra a reivindicação de Quaquá o bloqueio dos bens e a quebra do sigilo bancário e fiscal de Benedita da Silva pela Justiça, no início do mês. A parlamentar responde por crimes de improbidade administrativa da época em que foi secretária estadual de Assistência Social.

Outro ponto sensível na gestão Pezão é a personalidade do governador. Segundo apuração do Dia e do Brasil Econômico, Pezão tem dificuldade para confiar em todos os secretários — principalmente os que não são de sua cota pessoal — e gosta de tomar a decisão final sobre as políticas a serem implementadas, muitas vezes, contrariando a vontade de seus subordinados. Para interlocutores do PMDB, este perfil tem feito com que o governo fique nas cordas, numa sequência de notícias ruins — demissões, violência, corte de verbas. Para eles, os secretários deveriam aparecer mais para defender as políticas que implementam. Mas, sem autonomia, poucos o fazem, restringindo ao próprio governo a missão de aparecer para responder.

Maior beneficiário desses desdobramentos, Eduardo Paes, além de vir ganhando projeção nacional pela reivindicação em favor dos municípios frente à União, pavimenta seu caminho como um nome possível para as eleições de 2018, tendo Lula como cabo eleitoral.

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