Brasília - Ao final do quarto mês de mandato e sem novas mudanças em ministérios, a presidenta Dilma Rousseff finaliza agora as planilhas nas quais estão desenhados os quadros do segundo e terceiro escalões de seu governo. A cascata que desce do Planalto aos grotões eleitorais de todas as regiões brasileiras envolve 4,8 mil cargos comissionados, muitos com altos salários, em estatais, agências reguladoras e autarquias. Cabe ao vice-presidente e articulador político, Michel Temer, a tarefa de conciliar interesses partidários na divisão do bolo.
Alguns desses cargos são disputados com afinco pelos principais partidos da base, pois representam não apenas recursos financeiros, mas louros que os investimentos oriundos — especialmente das estatais — rendem às lideranças políticas na briga regional. Um desses casos é a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), hoje nas mãos do PT do ex-governador e atual ministro da Defesa Jaques Wagner, que é cobiçada pelo PMDB de Geddel Vieira Lima — que, na disputa local, foi candidato ao governo contra Rui Costa (PT) e fez campanha para o candidato a presidente Aécio Neves (PSDB), mas nos últimos dias é um dos principais interlocutores nas negociações do segundo escalão por seu partido.
A lista do PMDB está sendo coordenada pelo ex-ministro da Aviação Civil e hoje presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco — ele mesmo, um dos indicados à presidência de Furnas. Franco nega qualquer articulação envolvendo seu nome, mas fontes do PMDB garantem que é seu desejo manter a residência fixa no Rio de Janeiro. “Como sociólogo, estou muito bem no cargo em que estou, atuando no campo das ideias, e não desejo sair”, garante o ex-ministro e ex-governador do Rio de Janeiro, referindo-se à fundação do PMDB, responsável pelo desenvolvimento de projetos de pesquisa na área política.
Geddel pertence ao mesmo grupo de Eliseu Padilha, um dos principais auxiliares de Temer na distribuição dos cargos, e também nega estar trabalhando pela Codevasf — atualmente presidida por Elmo Vaz, afilhado político de Wagner. Mas, segundo peemedebistas, Geddel tem forte interesse na companhia, pela capilaridade que ela possui no interior do Nordeste.
Outro nordestino de olho na Codevasf é o piauiense Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, que já comanda o Ministério da Integração Nacional, na pessoa de Gilberto Occhi. O senador Benedito de Lira (AL) e o deputado Eduardo da Fonte (PE), líder do partido na Câmara, são os candidatos do PP ao cargo.
Desde que assumiu a função de coordenador político do governo, Temer traçou a estratégia de conversar com as bancadas estaduais de cada partido da base para equilibrar o comando do segundo e do terceiro escalões. Diariamente, verdadeiras romarias chegam ao seu gabinete com suas sugestões. Além da briga acirrada entre petistas e peemedebistas, o vice-presidente tem de enfrentar a insatisfação de partidos menores, que se sentem preteridos na divisão do bolo no segundo escalão, e daqueles que reclamam da falta de diálogo com a presidenta.
Ontem, por exemplo, Temer recebeu o presidente do Pros, Euripides Jr., e o deputado Givaldo Carimbão, que perdeu o ministério da Educação com a demissão de Cid Gomes; e o ministro Manoel Dias, do PDT, juntamente com senadores que defendem o afastamento do partido da base do governo. Mas com os presidentes da Câmara e do Senado em pé de guerra, as apostas são de que, por mais que tente equacionar a conta, Temer terá que ceder às pressões vindas de seu próprio partido, que vive momentos tensos, com troca de farpas entre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL). Para ver aprovadas importantes matérias de interesse do governo, Temer terá que ceder aos dois, ainda que eles digam não ter interesses em cargos.
Falando a deputados na Comissão que discute a Reforma Política, Temer defendeu a redução do número de partidos “até para facilitar a governabilidade”.