Por monica.lima

São Paulo - Em disputa dentro do PSDB para ser o candidato do partido a prefeito de São Paulo no ano que vem, o vereador Andrea Matarazzo deixa cada vez mais claros quais serão seus trunfos para enfrentar o petista Fernando Haddad, que busca a reeleição. Entre as expressões mais usadas pelo líder dos tucanos para atacar o prefeito estão “ideologização” e “politização”. Os termos qualificam as críticas a iniciativas em áreas como saúde, urbanismo e até mesmo as estratégias de combate ao consumo de crack e o diálogo com os organizadores dos rolezinhos.

Outra parte da estratégia de Matarazzo foi apresentada ontem, durante um debate dele com o líder do governo, o vereador Arselino Tatto (PT), em um programa da rádio Jovem Pan: ele disse de que o prefeito conhece pouco a cidade, porque administra de seu gabinete e vai pouco às ruas. A crítica é, coincidentemente, uma reclamação antiga dos petistas. Para os aliados de Haddad, a presença nas ruas ajuda a fortalecer a imagem do gestor, principalmente nas periferias. Como o partido já estava preocupado com o tema, Tatto pôde dar uma resposta rápida, citando uma reunião em que esteve com o prefeito no sábado na periferia da Zona Sul e uma atividade de rua de Haddad no momento do debate, na manhã de ontem, também na periferia.

No debate, os dois vereadores trataram da Lei de Zoneamento, que foi entregue ontem à Câmara Municipal pelo prefeito. A proposta deve ser tema de 40 audiências públicas, uma em cada subprefeitura, e oito temáticas. Matarazzo afirmou que a proposta deve prejudicar os bairros eminentemente residenciais, localizados em regiões valorizadas da cidade. Tatto, por sua vez, destacou a capacidade de planejamento da atual gestão e destacou o amplo debate na aprovação do Plano Diretor.

Em uma rodada de longas entrevistas a rádios e TVs, Haddad tem explorado justamente o discurso de aprimorar o planejamento de São Paulo para prepará-la melhor para o futuro. O tema está presente também nas campanhas publicitárias da gestão, que destacam iniciativas em mobilidade urbana, centros de triagem de material reciclável, novos espaços de lazer e praças conectadas à internet, por exemplo.

Apesar de faltar mais de um ano para o início oficial da disputa eleitoral, Haddad e Matarazzo se preparam para enfrentar dificuldades, pois terão adversários de grande visibilidade, como a ex-prefeita Marta Suplicy, possivelmente pelo PSB, e o deputado federal e apresentador da TV Record Celso Russomanno (PRB). Além de liderar a oposição, Matarazzo conta com a tradição de sua família, italianos que criaram um império econômico no início do século passado e tiveram uma participação importante na vida cultural da cidade nas décadas seguintes. O gabinete do prefeito inclusive fica em um prédio com arquitetura de inspiração fascista, construído para sediar o grupo empresarial. O vereador também tem o hábito de sugerir reportagens a uma revista semanal de circulação local.

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, um dos pontos que melhor podem ser explorados pela oposição ao prefeito é a falta de um diálogo mais intenso nos bairros, principalmente em relação às ciclovias. O assunto foi amplamente explorado por Matarazzo e outros políticos tucanos. Mas o PSDB também precisou fazer ajustes em seu discurso sobre o tema, de críticas mais gerais para o apontamento de falhas de planejamento. O próprio vereador teve de publicar nas redes sociais uma mudança de opinião a respeito da faixa que está sendo construída na Avenida Paulista.

Couto acredita que o principal desafio para Haddad será vencer a rejeição do eleitorado em relação ao PT. “É algo forte no Brasil inteiro, mas principalmente em São Paulo”, diz. Para isso, uma das principais vantagens do prefeito é sua imagem de moderno, diferente dos demais petistas. “A grande marca da gestão até agora é a mobilidade urbana, mas a imagem de descolado pode ajudá-lo a superar a rejeição ao PT”, diz.

Quanto ao discurso de Matarazzo contra a “politização” e a “ideologização” das ações públicas, Couto destaca a contradição. “A política é o lugar de decisões ideológicas. Existe uma estratégia agora de apontar as decisões próprias como técnicas e as dos adversários como políticas, mas é claro que são questões ideológicas também”, comenta. Para ele há uma contradição dos eleitores, que corroboram com o discurso contra a politização da política e ao mesmo tempo criticam a falta de ideologia dos partidos.

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