Por bruno.dutra

Rio - A comunicação do Partido dos Trabalhadores e do governo federal com a sociedade continua sendo uma das maiores preocupações dos petistas no 5º Congresso Nacional do PT, que começa hoje em Salvador (BA). Mas o diagnóstico feito por analistas de que o partido vive atualmente sua maior crise de identidade é corroborado pelo crescimento da apreensão por parte das lideranças da legenda: nas resoluções do congresso de 1999, a palavra “comunicação” aparecia 28 vezes. Já no documento do terceiro encontro, em 2007, com o PT já no governo, o termo foi citado 44 vezes.

Agora, no caderno de teses apresentado pelas correntes, a palavra figura 54 vezes no texto, geralmente associada a termos como oligopólio, lei da mídia, democratização dos meios ou regulamentação. Na opinião do cientista político Aldo Fornazieri, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), um dos problemas para que haja a efetiva democratização dos meios decorre, segundo ele, de uma confusão provocada pelo próprio partido.

“Uma coisa é a política de desoligopolização dos meios de comunicação, outra coisa é o PT se fazer de vítima dos meios de comunicação de massa. O partido sempre se comunicou mal e mistura esse dado com a questão da democracia. Há uma política de democratização dos meios a se propor para o país e pelo governo, mas isso não deve ser confundido com as questões do PT”, argumenta Fornazieri, para quem a legenda usa a mídia contra ela: “Querendo ou não, os meios de comunicação de massa existem e o sujeito político, o PT no caso, precisa de uma estratégia de positivização de sua imagem na mídia”.

O cientista político afirma, no entanto, que o problema da comunicação não é exclusivo do PT, “que não tem a solução para a questão”, embora sempre a retome nos seus congressos: “Os partidos caminham para uma estatização e autarquização, financiados pelo Estado e por empresas. Isso, evidentemente, os coloca mais afastados dos movimentos sociais e atinge em cheio a identificação e a comunicação com as pessoas”.

A tentativa de resolver o problema deve ser mais pragmática, na opinião do professor de Comunicação Política Roberto Gondo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para ele, haverá no 5º Congresso lideranças mais radicais que se apegam ao contexto ideológico para tratar da comunicação e os que têm a preocupação real com a incapacidade de se comunicar: “Estes últimos vão falar de gerenciamento de crise, e não é crise de escândalo ou denúncia, mas de uma crise identitária do partido com o filiado, que é natural, já que são quase 20 anos no poder”.

Gondo avalia que a Secretaria de Comunicação Social do Planalto, a Secom, não faz uma política “errada” e tem conseguido reverter ou amenizar danos como o da Operação Lava Jato ou da austeridade do ajuste fiscal, “mas isso ainda é paliativo, porque o eleitor está incrédulo”.

Segundo o professor, a estratégia comunicacional do governo, agora, é cuidar da “sobrevivência do partido” para 2018: “Por isso, faz sentido a reclusão da Dilma e a do Lula, o que não significa que ele não esteja articulando”.

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