No início de novembro o dólar atingiu o maior patamar desde 18 de abril de 2005, fechando em R$ 2,59, em linha com as incertezas sobre a nomeação da equipe econômica do governo. No entanto, o real não é a única moeda que tem mostrado desvalorização perante o dólar. O índice Dollar Spot, da Bloomberg, que monitora o desempenho de uma cesta das dez principais moedas mundiais em relação ao dólar, acumula quase 8% de valorização no ano de 2014. Vale enfatizar que o euro tem 31,3% de peso no índice.
Entre as moedas dos emergentes, o real é a segunda que mais acumula perdas no mês de novembro, atrás apenas do rublo russo. É importante destacar a diferença de cenário entre os dois países, já que a Rússia vive uma crise no regime cambial. Outra forma de avaliar o Brasil comparativamente a outros emergentes é a partir da observação dos spreads dos Credit Default Swaps (CDS) brasileiros, que medem a probabilidade de calote dos títulos da dívida emitida por empresas e governo brasileiros. O CDS do Brasil subiu 22% somente no mês de novembro e está bastante descolado dos outros emergentes. A pontuação atual é de 184,6, enquanto a do México é de 86, e a do Chile, de 76,6.
Internamente, o último relatório de inflação do Banco Central trouxe destaque à situação de piora no cenário inflacionário no curto prazo e sinalizou que a conversão para a meta central só deve ocorrer em 2016, o que sugere que poderão ocorrer novas altas na taxa básica de juros. O documento sugere, também, que as pressões inflacionárias advêm principalmente dos ajustes dos preços relativos e dos administrados.
A manutenção de altas taxas de juros inibe a atração de investimentos, fator já bastante prejudicado atualmente, e torna mais distante o processo de reversão do atual modelo de crescimento, que já se mostra deteriorado há algum tempo.
Outra fonte de preocupações para os emergentes é a aproximação da mudança na política monetária norte-americana. Os indicadores de emprego e produtividade dos EUA têm se mostrado mais animadores ao longo do ano. A ata mais recente da reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (FOMC) reforçou que a elevação dos juros dependerá da evolução desses dados, o que significa que haverá maior volatilidade a cada divulgação de indicador norte-americano. As mudanças na política monetária dos EUA poderão atrair capitais dos emergentes para os EUA, já que é considerado historicamente um país mais seguro para investir, ainda que os outros ofereçam maior prêmio de risco. Apesar das operações de swaps cambiais, a volatilidade do real já está bastante elevada — em torno de 18% —, atrás apenas do peso colombiano, com 24,3%, e do rublo russo, com 23,9%.
Apesar dessas incertezas, nesse ambiente de liquidez global abundante no qual os bancos centrais, principalmente o europeu e o japonês, continuam aumentando a base monetária, não deverão faltar recursos para financiamento do déficit na conta corrente brasileira durante esse período. Os bancos centrais americano e europeu enfatizaram, em suas últimas reuniões, que um período prolongado de preços baixos alimenta as expectativas deflacionárias. Isso porque, quando caem as expectativas inflacionárias, a taxa real de juros, que é a mais importante para as decisões de investimentos, aumenta. Dado que as taxas de juros nominais já estão em seus níveis mais baixos, elas não podem ser usadas no curto prazo. Logo, qualquer desancoragem das expectativas inflacionárias causa um aperto monetário — o oposto do que os bancos centrais desejam no momento.
A perspectiva geral é de que o preço da moeda norte-americana mantenha tendência de alta, ainda que com certa volatilidade, o que poderá trazer ainda mais desvalorização para o real, adicionando maior pressão à inflação.
Ao observarmos os indicadores econômicos isoladamente, como juros e câmbio, é possível que nos esqueçamos de um fator muito importante que os conecta: a credibilidade. Os ativos dependem dela para a construção de seu valor fundamental; e esse valor é a base para a segurança de investidores e consumidores.
É preciso demonstrar algum direcionamento para a reconstrução da credibilidade enfraquecida do país. Isso é necessário, pois, assim, poderá haver maior previsibilidade em relação às trajetórias do câmbio e dos juros, evitando-se que o Brasil pague prêmios de riscos desnecessários para rolar sua dívida. A ancoragem da credibilidade depende de um programa fiscal crível que gere superávits primários necessários para preservar a sustentabilidade da trajetória benigna da dívida pública. É obvio que a retomada do crescimento econômico é a variável de ajuste que permitirá o menor sacrifício possível das políticas contracionistas fiscal e monetária.
É importante salientar que a calibragem moderada das taxas de juros Selic pelo Banco Central é fundamental para evitar o crescimento do déficit nominal, permitindo maior espaço para os investimentos públicos.
A entrada de recursos externos, viabilizada pela liquidez internacional abundante, permitirá o ajuste gradual da economia brasileira, que poderá ser financiada sem maiores dificuldades, caso a retomada do crescimento seja resgatada.