Por diana.dantas

As vendas no varejo se mantêm em ritmo relativamente moderado, mas os fundamentos levam à desaceleração. No último mês do ano passado, o varejo registrou queda, de novembro para dezembro, de 2,6% — pior resultado em um mês na série da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE. No ano, o resultado foi de 2,2%, o qual, apesar de positivo, foi o mais fraco em 11 anos. O mercado de trabalho também reflete o desaquecimento da economia. A geração de empregos em 2014 foi a menor da série histórica do Caged iniciada em 2002. Crescimento mais lento da massa real de salários, aumento das taxas de juros reais e crescimento mais lento do crédito são compatíveis com um desempenho menor de expansão do varejo.

A pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF), realizada pela CNC, refletiu em fevereiro o cenário de desaquecimento do consumo que pode ser observado desde o ano passado. A pesquisa é um indicador antecedente que tem como objetivo estimar o potencial das vendas do comércio. O índice geral está no menor valor da série histórica, com 117,8 pontos, e registra queda anual de 9,3%. O resultado reflete um ano inteiro de desaceleração no comércio e inclui também a perspectiva de custos maiores com água e energia e a possibilidade de racionamento. Dados de outras instituições reforçam o cenário de pessimismo que atinge todos os agentes. A prévia do Índice de Confiança da Indústria, divulgado pela FGV, recuou 3,1% — menor resultado desde outubro de 2014. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, da CNI, atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada há 16 anos. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), também da FGV, atingiu, em fevereiro, o menor valor de sua série iniciada em junho de 2008.

Atualmente, não há escassez de liquidez na economia (vide os programas de expansão monetária já existentes há algum tempo nos EUA e no Japão e mais recentemente na Europa) e os fatores que impedem a tomada de crédito por parte de empresários e famílias são a incerteza acerca do cenário econômico e principalmente os juros, que estão bastante altos. A taxa de juros para o consumidor, representada pela taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas (divulgada pelo Banco Central) atingiu, em sua última publicação, referente a dezembro, o segundo maior valor da pesquisa de crédito do Banco Central iniciada em 2011: 43,37% a.a.

Contudo, não há espaço para uma diminuição da taxa de juros Selic em um ambiente em que a inflação está no teto da meta estipulada pela autoridade monetária e em que não há perspectivas de melhora no curto prazo. No boletim Focus desta primeira semana de março, a mediana dos analistas para o IPCA subiu pela nona semana seguida, de 7,33% para 7,47%. Nesse contexto, a estimativa para a Selic, que estava em 12,5% por um tempo, subiu para 12,75% há duas semanas, e agora está em 13%. Atualmente, a taxa é de 12,25% a.a.

A conjuntura econômica atual demanda a correção dos desequilíbrios macroeconômicos, aprofundados recentemente. A maior parte da volatilidade presente nos ativos financeiros deve-se a dúvidas em relação à magnitude e à velocidade dessas mudanças. No entanto, apesar de requerer atenção, o cenário está longe de ser catastrófico, pois já há ajustes acontecendo.

Um dos desequilíbrios macroeconômicos atuais é a deterioração das contas públicas. A redução do superávit primário, devida em parte ao aumento dos gastos e desonerações e em parte ao baixo crescimento econômico, ao mesmo tempo que provoca elevação das taxas de juros incidentes sobre a dívida, coloca a sustentabilidade das finanças públicas no longo prazo.

Os problemas estruturais, que vão desde inflação elevada, juros altos, falta de competitividade da indústria e preços administrados até tantos outros, são os motivadores da falta de confiança. A perspectiva é de piora inflacionária no curto prazo. No entanto, com a atividade econômica fraca e o ajuste fiscal em curso, no horizonte de tempo de atuação da politica monetária o balanço de risco é melhor para a inflação. Provavelmente, haverá espaço para começar um novo ciclo de baixa de taxas de juros, assim que as expectativas inflacionárias começarem a ceder, até o final do ano.

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