Por diana.dantas

É consenso geral que a economia brasileira vive um momento complexo, em que a maioria dos indicadores mais significativos mostram resultados desanimadores. O saldo do PIB do primeiro trimestre e os números mais recentes de diversos setores direcionam as expectativas para uma conseguinte queda da atividade no segundo semestre. Esses resultados dão continuidade ao enfraquecimento da atividade que já era observado desde o ano anterior e que foi aprofundado pelas medidas de política monetária e fiscal aplicadas mais intensamente neste ano, como a continuidade da política monetária contracionista, com aumento de juros e consequente aperto ao crédito, o reajuste dos administrados e o ajuste fiscal. Essas medidas, em conjunto com a taxa de câmbio — que está um pouco mais livre, em razão da diminuição das intervenções no mercado futuro —, objetivam um ambiente de negócios que suporte o crescimento sustentável por meio da solução das problemáticas atuais de inflação elevada, déficit em transações correntes e contas públicas enfraquecidas.

O processo de ajuste já está em curso, e é possível que esse seja um dos momentos mais complicados, já que só é possível sentir os efeitos negativos, que deverão, no futuro, conduzir às melhorias pretendidas.

O esforço governamental no sentido de progressos fiscais é perceptível. Há medidas emergenciais que já estão sendo aplicadas, como a redução de despesas discricionárias. E também há medidas com caráter de longo prazo, que objetivam aperfeiçoar as bases de incidência de impostos e alíquotas aplicadas e revisar desonerações concedidas anteriormente. Além disso, há planos para rever os programas de transferência, como abono salarial, seguro-desemprego, entre outros. Os números do primeiro semestre mostram uma melhora na tendência de deterioração dos superávits primários, ainda que estejam mais fracos do que os previstos inicialmente.

Há diversas discussões entre os analistas sobre em que medida o desequilíbrio atual é conjuntural ou estrutural. No entanto, é bastante claro que boa parte das questões atuais advêm de temas que não foram encaminhados de forma adequada no passado.

A inflação, por exemplo, é uma questão estrutural, pois já está longe da meta há diversos períodos e ainda se mostra elevada mesmo com o desaquecimento da demanda. O principal entrave à sua queda é o reajuste dos preços administrados. No último relatório de inflação o Banco Central declarou esperar que ela atinja 9% ao final de 2015. A última previsão para o IPCA, de março deste ano, estava em 7,9%. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) o Copom também atribui a alta dos preços ao processo de realinhamento dos administrados e dos preços livres. Adicionalmente, o RTI ressaltou que o real se depreciou significativamente nos últimos três anos em relação a outras moedas relevantes, e por isso já ocorre realinhamento entre preços domésticos e internacionais.

Essa desvalorização em relação ao dólar, que nos últimos 12 meses foi de 30% em termos nominais, já mostra efeitos nas transações correntes. O déficit registrou queda pelo segundo mês consecutivo — um sinal de que o câmbio pode estar caminhando para seu valor de equilíbrio, que seria aquele que levaria à redução do déficit em conta corrente e à estabilização da relação entre o passivo externo e o PIB. Em termos reais, a taxa de câmbio brasileira teve queda próxima de 16% no mesmo período — a maior desvalorização em uma lista de 61 nações, de acordo com o BIS.

Há a expectativa de que o orçamento das famílias esteja menos apertado na segunda metade do ano, por conta de um possível alívio na inflação. O primeiro semestre foi marcado por intensos reajustes de tarifas públicas, principalmente as de energia, reduzindo a renda disponível para consumo. Para o segundo semestre, não são esperados novos reajustes, ou estes acontecerão com menor intensidade. O comportamento da inflação nos próximos meses será decisivo para os rumos das vendas no varejo no segundo semestre.

Em duas das pesquisas apuradas pela CNC, é possível ver alguns sinais, embora leves, de um olhar menos pessimista para os próximos meses. Na pesquisa Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) houve retração de 0,2% em maio ante abril, porém foi a menor queda nessa base de comparação desde setembro. O desempenho melhor do índice foi conduzido pelo subíndice do Icec denominado Índice de Expectativas do Empresário do Comércio (IEEC), que registrou alta de 1,0% em maio ante abril — a primeira em oito meses na comparação com o mês imediatamente anterior. Ainda assim, o IEEC recuou 16,2% em relação a maio de 2014.

A pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF), também da CNC, registrou uma redução no ritmo de queda. Apesar de os componentes estarem nos menores patamares históricos, o indicador demonstrou redução no ritmo de queda mensal. Em abril e maio a queda foi em torno de 7%, e em junho, de 4,8%.

O índice de Confiança do Consumidor da FecomércioSP de junho, em relação a maio, caiu 1,3%, enquanto o mesmo indicador correspondente de maio em relação a abril caíra 9,5%.

Na pesquisa de confiança do comércio da FGV também houve melhora. Em maio o indicador caiu 0,3% ante abril, após alta de 0,5%. Os dois resultados foram considerados como uma estabilidade, após uma queda de 15,3% acumulada entre dezembro de 2014 e março de 2015.

Nas expectativas também houve evolução positiva. O índice subiu 2,1% em abril e progrediu 4,1% em maio, atingindo a maioria dos setores. Entre os que mostraram melhora estão tecidos e vestuário, equipamentos e material de escritório e informática e artigos farmacêuticos.

Esses resultados, porém, devem ser vistos com cautela, pois a melhora ainda é limitada. A continuidade do ajuste fiscal e a busca da realidade monetária sem excessos são condições fundamentais, que devem continuar sendo perseguidas.

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