Por monica.lima

Ao rebaixar o rating do Brasil em um degrau, a agência Standard & Poor's fez o que vinha prometendo desde meados do ano passado, quando pôs a nota brasileira em perspectiva negativa. A decisão da noite de segunda-feira, portanto, não devia ser motivo de surpresa. Haveria espanto, sim, se a S&P tivesse pesado a mão e retirado da economia brasileira o grau de investimento, o que não aconteceu. Como disse o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o mercado financeiro respondeu à notícia do rebaixamento com "tranquilidade e maturidade". Prova disso é que a Bolsa de Valores operou sem maiores oscilações, fechando com uma alta de 0,29%. "Esse fato já estava precificado", concluiu Coutinho.

Se o mercado não deu muita importância à nova classificação, bem diferente foi a reação do governo Dilma Rousseff. No Plano Piloto de Brasília, o clima foi de indignação. O ministério da Fazenda, em nota oficial, desancou a agência de risco americana. Considerou a mudança na avaliação do País "inconsistente com as condições da economia" e "contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil". O ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges Lemos, classificou de injusta a reclassificação e listou pontos a favor da economia brasileira: estabilidade cambial, estabilidade monetária, estabilidade fiscal e relação dívida bruta/PIB cadente. Em resumo, disse ele, "não existe nenhuma justificativa objetiva para o rebaixamento". E até a ministra Ideli Salvatti deitou falação.

O ataque mais violento partiu do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Preocupado com a possibilidade de respingos na campanha eleitoral, Carvalho tratou de desqualificar o rating e lembrou que a S&P não conseguiu prever a crise que se abateu sobre os Estados Unidos e o mundo em 2008. "Não dá para a gente se abater pela simples consideração de uma empresa que mal conhece o País e já errou tanto no mundo. No caso da crise americana, foi nítido, essa empresa não conseguiu enxergar o risco que ali, sim, havia para investidor". Seu revide ganhou tom de desabafo: "Eu fico olhando esses caras que dão um cacete, preveem que o Brasil vai acabar amanhã e que o governo está numa crise total. Caras como eles não tiram a bunda da cadeira, não andam por esse Brasil afora, não sabem o que é o País".

A bem da verdade, os técnicos da S&P tiraram a bunda da cadeira e cumpriram agenda de entrevistas em Brasília e em São Paulo. Além de ouvir economistas e empresários, reuniram-se com técnicos da Fazenda e do Banco Central há duas semanas. Mas a decisão já estava tomada. A S&P vê contradições na gestão da política econômica, com desequilíbrio fiscal e elevação dos níveis de endividamento. Mas não será acompanhada pelas demais agências de risco. Moody's e Fitch garantem que não vão rebaixar a nota. Além do retrospecto negativo, também pesam contra a Standard & Poor's seus critérios de avaliação.

Com o rebaixamento, ela colocou o Brasil no mesmo nível da Espanha e do Marrocos. Isso não faz sentido. A economia espanhola se debate em crise há mais de cinco anos, com taxa de desemprego recorde, superior a 26%. E o Marrocos, sob a monarquia de Mohammed VI, vive basicamente da agricultura e do turismo com um PIB de US$ 153 bilhões (contra US$ 2,2 trilhões do Brasil). Com a devida licença da S&P, a equiparação da economia brasileira às da Espanha e do Marrocos é uma piada.

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