Por bruno.dutra

Diante da queda das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff de 44% em fevereiro para 38% no início de abril, porta-vozes do PSDB e do PSB concluíram rapidamente que o governo está perdendo substância. O prestígio de Dilma teria entrado em queda livre pelo descontentamento da opinião pública com os rumos da economia e também como efeito da temporada de más notícias, desde o rebaixamento do rating do Brasil até as críticas à administração da Petrobras. Para o deputado Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, tudo indica que “a vida de Dilma está ficando dura e difícil”. Em contrapartida, abre-se o espaço para o crescimento de Aécio Neves e Eduardo Campos.

Nas hostes governistas, apesar do recuo da presidente, alguns aspectos da pesquisa foram bem recebidos. Chamou a atenção, por exemplo, o fato de os dois principais pré-candidatos da oposição não terem abocanhado os percentuais de intenção de votos perdidos por Dilma. Aécio manteve-se com 16% e Campos subiu de 9% para 10%.

O que aumentou foi o total de indecisos. Além disso, a queda de abril não foi suficiente para impedir a vitória da presidente no primeiro turno. Isso só não aconteceria se a candidata do PSB fosse Marina Silva, e não Eduardo Campos. Mas essa é uma hipótese descartada. Campos é o cabeça de chave, mas continua pouco conhecido da opinião pública.

O ex-governador de Pernambuco não melhorou sua visibilidade nem mesmo com o programa de TV, ao lado de Marina, na semana passada. E Aécio, por enquanto, prefere circular em ambientes fechados, para plateias de elite e formadores de opinião.

Cada um interpreta os dados a seu gosto, mas as reações do governo e da oposição não encontram respaldo entre os especialistas em pesquisa de opinião. Uma das maiores autoridades no assunto, o cientista político Antônio Lavareda diz que está se dando peso demais às intenções de voto e isso seria um erro. Os eleitores ainda estão desligados e desinformados, um quadro que só vai mudar a partir de agosto.

Para ele, relevante no levantamento do Datafolha é a confirmação de que há na sociedade um forte desejo de mudança. “Essa é a variável mais importante”, diz Lavareda, referindo-se aos 72% de entrevistados para os quais a maneira de atuar do próximo presidente deve ser diferente. O percentual a favor de mudanças é alto e, caso se cristalize, colocaria em perigo a reeleição de Dilma.

O momento, sem dúvida, não favorece a presidente. Daí a prever novas quedas vai grande distância. Outra autoridade em pesquisa afirma que o quadro eleitoral está complicado e indefinido. Houve uma saraivada de más notícias envolvendo o governo, o que certamente contribuiu para a queda de Dilma na consulta divulgada no fim de semana. Está pesando agora o sentimento de insegurança em relação à economia, à inflação e ao emprego futuro.

Tudo isso, porém, pode mudar a partir do início oficial da campanha em agosto. Dilma tem a seu favor a máquina pública e também terá tempo mais do que suficiente na TV para dar ênfase ao efeito renda dos programas sociais do governo. Trará a seu lado um poderoso cabo eleitoral: o ex-presidente Lula. Ela caiu, mas mantém 54% de apoio no Nordeste e ampla aprovação dos eleitores de baixa renda. Continua favorita.

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