Quem acompanha todas as noites o Jornal Nacional da TV Globo conhece as cifras de cor: comprada pelos belgas por apenas US$ 42,5 milhões, a unidade do Texas foi vendida à estatal brasileira por US$ 1,2 bilhões. A diferença é gritante e vem servindo de munição pesada para a oposição. O alvo principal é a presidente Dilma Rousseff que, à época da transação, presidia o conselho de administração da Petrobras.
Ela já se defendeu, explicou que não conhecia todos os detalhes do negócio, mas não conseguiu evitar os desdobramentos. Um diretor foi afastado do cargo que ocupava na BR Distribuidora e outro está preso por envolvimento numa operação da Polícia Federal contra lavagem de dinheiro. Animada com a repercussão, a oposição investe na realização de uma CPI específica para apurar o caso. Aposta que a CPI renderá generosos frutos eleitorais.
Os adversários de Dilma Rouseff não surpreendem ao buscar pontos de desgaste da pré-candidata à reeleição. Da mesma forma, é natural que o governo procure se defender, criando obstáculos à iniciativa de seus opositores. Foi o que disse o ex-presidente Lula, de forma desabrida como é de seu estilo: “O governo tem que ir para a ofensiva e debater esse assunto com muita força. A gente não pode permitir que, por omissão nossa, as mentiras continuem prevalecendo. Temos que defender com unhas e dentes aquilo que nós acreditamos que seja verdadeiro”.
Ontem, a fala do comandante do PT surtiu efeito e o rolo compressor do governo exibiu o seu peso. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou relatório do senador Romero Jucá, que defende a instalação de uma CPI ampla para investigar não só a Petrobras, mas, também, os contratos do metrô de São Paulo e do Porto de Suape, em Pernambuco.
Amplia-se, assim, o alvo da inquisição para denúncias contra os tucanos paulistas e o ex-governador Eduardo Campos. O que provocou choro e ranger de dentes. “Pelo fato de a maioria controlar a agenda das CPIs é que essa CPI do fim do mundo servirá apenas para obstaculizar a investigação da Petrobras, porque demorarão um tempo infinito sobre os outros aspectos agregados a ela para nunca chegar à Petrobras. É esse o objetivo do governo”, acusou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), durante bate-boca com a ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR), agora de volta ao Senado.
A indignação de Aloysio faz parte do show, mas o senador paulista (que, como Dilma, atuou na luta armada) não é ingênuo a ponto de acreditar que o governo fosse ficar de braços cruzados diante da investida. Afinal de contas, como já ensinava Ulysses Guimarães, “CPI a gente sabe como começa, mas não sabe como termina”.
A oposição ainda sonha com uma intervenção do STF a favor de uma CPI com tema exclusivo. O pedido, porém, está nas mãos da ministra Rosa Weber, que não tem prazo para se manifestar. Além disso, é difícil acreditar que o Supremo, às vésperas de uma eleição geral, vá interferir numa questão regimental do Congresso.
É por essas e outras que os próprios parlamentares costumam criticar o que chamam de “judicialização do Legislativo”. Tudo indica que o pedido da oposição vai ficar na geladeira. O que está em jogo no duelo de Pasadena é menos a saúde financeira da Petrobras e muito mais o resultado das urnas em outubro. E o jogo político é bruto.