Por douglas.nunes

Não houve surpresa e o Brasil já conhece a seleção que vai tentar chegar à final e se tornar campeã do mundo no Maracanã, no próximo dia 13 de julho. Neymar e seus companheiros terão a oportunidade de realizar a conquista que a geração de Zizinho e Ademir deixou escapar pelos pés no dia 16 de julho de 1950. Diante do desafio histórico e da paixão nacional por futebol, esperava-se que o País estivesse vivendo um clima de euforia, com as ruas enfeitadas e o povo vestido de verde e amarelo. Porém, não é isso que vê. Ao contrário, baixou em grande parte dos brasileiros um distanciamento meio esquisito. Parece que fomos todos tomados de uma espécie de fleugma britânico. Deixamos de ser a pátria de chuteiras, pelo menos até agora. Falta um mês e a mobilização é tímida.

Tudo pode mudar. Quem gosta de futebol está ansioso e não vê a hora de a seleção do Felipão entrar em campo. Mas,infelizmente, há gente torcendo contra, por considerar excessivo o gasto com a construção dos estádios e discordar das concessões feitas à FIFA. Argumentam que um país com problemas seculares em setores como educação e saúde não deveria destinar investimentos públicos a um torneio esportivo, mesmo que seja um dos maiores de todos (pela importância, a Copa só fica atrás das Olimpíadas). Eles ignoram que os gastos com o evento são infinitamente inferiores aos orçamentos públicos destinados a serviços básicos. E, sem esconder o radicalismo, acreditam-se capazes de estragar a festa, com manifestações de rua e protestos convocados nas mídias sociais. “Não vai ter Copa”, proclamam os anarquistas de ocasião.

A essa altura, está claro que haverá Copa. Problemas existem, o improviso é o de sempre, com muita coisa deixada para a última hora, mas a bola vai rolar a partir de 12 de junho. E aí o clima de festa vai voltar. Aqueles que pretendem fazer do torneio uma arma de contestação política podem quebrar a cara. Muita gente com mais de 60 anos lembra-se muito bem do que aconteceu na Copa de 1970. Em plena ditadura militar, com tortura nos quartéis e a Justiça amordaçada, os movimentos de esquerda decidiram virar as costas à torcida canarinho. A ordem era não acompanhar os jogos e torcer por derrotas da seleção de Zagalo (cuja base havia sido formada pelo comunista João Saldanha). No primeiro jogo do Brasil, era recomendável torcer pelo adversário, a Tchecoeslováquia, do bloco socialista. Mas o gol maravilhoso de Jairzinho e a atuação genial de Pelé desmontaram a campanha de boicote.
Depois do 4 a 1 contra os tchecos, vieram outras vitórias e os ativistas de esquerda passaram a comemorar até mesmo nos porões da ditadura. Umas das militantes que estava presa na época era a mineira Dilma Vana Rousseff. A presidente da República conta que o gelo quebrou aos poucos à medida que o Brasil marcava seus gols, com exibições da mais completa seleção da história. Apesar do sofrimento a que estavam submetidos, os presos políticos aderiram à festa do tricampeonato. Em todas as cidades, a alegria tomou conta das ruas. Eram anos de chumbo, mas a polícia não teve como impedir o carnaval fora de época.

A história, hoje, é bem diferente. O país vive dias de plenitude democrática. E não faz qualquer sentido a torcida do contra. Mas o desfecho deverá ser o mesmo, com muitos gols e muita festa. Que venha a Copa!

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