Com o grande número de indecisos, os vários institutos especializados apontam resultados diferentes, com base em critérios também distintos. Quem ganha dinheiro com isso são os operadores do mercado financeiro, que fazem apostas sobre as tendências de voto. Este ano, a especulação já está correndo solta. Num dia da semana, sai o Ibope, de Carlos Augusto Montenegro, mostrando queda de Dilma Rousseff e forte possibilidade de segundo turno.
No outro, o Vox Populi, de Marcos Coimbra, traz a presidenta firme na ponta, com grande chance de vitória já no dia 5 de outubro. O Datafolha, por sua vez, também mostra Dilma em baixa, mas liquida a candidatura de Eduardo Campos, com apenas 7% das intenções de voto. Como de hábito, as pesquisas não casam.
A favor dos institutos de pesquisa, é bom lembrar que as técnicas e os universos de amostragem não são os mesmos. O que leva, obviamente, a resultados muitas vezes discrepantes. Com o pleito distante, também dificulta o trabalho o contingente de eleitores que ainda não sabe em quem votar ou aqueles que pretendem anular o voto. No caso atual, estima-se que os dois grupos somem em torno de 30% do total, o que seria suficiente para garantir a vitória de Dilma Rousseff ou de Aécio Neves, caso um deles viesse a se tornar a opção na boca da urna. Nesse quadro de indefinição, tudo é possível. Até mesmo Eduardo Campos sair da rabeira e passar para o segundo turno, na frente do tucano. Uma hipótese remota pelos índices atuais.
Especialistas atribuem os casos mais famosos de reviravolta eleitoral exatamente à zona cinzenta da indefinição. O exemplo mais citado é o da vitória da petista Luiza Erundina na eleição para a prefeitura de São Paulo em 1988. Até a véspera do pleito, Paulo Maluf seria o vencedor por ampla margem. A desconhecida assistente social havia crescido, mas não o suficiente para passar à frente. O grau de indecisão, porém, era alto. E nem bem a apuração começou, ficou evidente que os indecisos, na verdade, eram eleitores de Erundina, que tinham receio de revelar o voto. A redemocratização do país ainda estava em curso e eles temiam represálias por votar no PT.
São inúmeros os exemplos de candidatos que lideraram as pesquisas por vários meses, mas que foram perdendo terreno à medida que o pleito se aproximou. A ex-udenista Sandra Cavalcanti viveu esse drama no Rio de Janeiro e, anos mais tarde, a brizolista Cidinha Campos também viu suas intenções de voto virarem pó na reta final. De favorita à prefeitura carioca em 1992, não conseguiu sequer chegar ao segundo turno, ultrapassada por Benedita da Silva e César Maia. Na corrida presidencial em 1989, Lula ultrapassou Brizola nos últimos metros e se habilitou a disputar o segundo turno com Fernando Collor. Perdeu, mas ajudou a consolidar o PT.
Nesse período, é natural a divergência nas pesquisas. Mas, com base nas lições do passado, Ibope, Datafolha e Vox Populi farão todo o possível para não passar vergonha diante do resultado final. Nas semanas que antecederem as eleições, aplicarão as correções necessárias e ajustarão suas previsões, pois está em jogo a própria credibilidade. As curvas dos gráficos vão se aproximar, dentro dos limites das margens de erro. Assim tem sido e este ano não vai ser diferente.