Por bruno.dutra

Ao tempo da Guerra Fria, os dois países apresentavam-se como alternativa à polarização entre Estados Unidos e União Soviética. E eram frequentes os congressos e eventos realizado em Pequim e Nova Déli, reunindo delegações dos países não alinhados com Washington e Moscou. Com o peso de suas populações, China e Índia comandavam as ações na área que os diplomatas franceses chamavam de Terceiro Mundo.

O Brasil participava dessas iniciativas, mas sempre numa posição de coadjuvante. Agora com o advento dos Brics, como faz questão de ressaltar o governo Dilma, estamos em pé igualdade com os dois colossos asiáticos, que têm fronteira entre si e representam mais de 1/3 da Humanidade, com seus 2,6 bilhões de habitantes.

Diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), com capital de US$ 50 bilhões, é mais importante até mesmo do que o acordo de Bretton Woods, que deu origem ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, após a Segunda Guerra Mundial. Mantega aposta também no alcance do Arranjo Contingente de Reservas (CRA, em inglês), com recursos iniciais de US$ 100 bilhões, para cobrir eventuais desequilíbrios de curto prazo no balanço de pagamentos.

O mecanismo servirá de complemento às atividades do FMI. A China entrará com US$ 41 bilhões; Brasil, Índia e Rússia com US$ 18 bilhões cada e a Rússia com US$ 5 bilhões. O país em dificuldades receberá aporte em dólares e, em troca, depositará o equivalente em sua moeda. Existe a possibilidade de socorrer terceiros, que não integram os Brics. Cita-se o exemplo da Argentina, ameaçada pelo risco de default.

Não há dúvida sobre a importância das decisões da 6ª Cúpula dos Brics, realizada em Fortaleza. Mas, como Guido Mantega é um inveterado otimista por natureza, recomenda-se moderação. Quem propôs a criação do banco foi a Índia, que recebeu pronta adesão da China. Não é segredo para ninguém que os chineses – hoje donos da segunda maior economia, atrás apenas dos Estados Unidos – estão em busca da hegemonia mundial. Por isso mesmo, não recuaram um milímetro da exigência da sede em Xangai.

Os indianos, de seu lado, também são zelosos de seu status e deixaram claro que só aceitariam a demanda da China se fossem contemplados com a presidência do NDB. Sobrou, então, para o Brasil, que se viu forçado a abrir mão da primeira presidência em favor da Índia. Se tudo correr bem, assumiremos o cargo daqui a cinco anos.

Na versão de Dilma Rousseff, não houve propriamente um recuo, mas sim a busca de entendimento, que esse tipo de negociação exige. “As coisas não saem se não houver consenso... É preciso fazer um exercício de perceber o quanto uma iniciativa como essa beneficia a todos os países”, explicou a presidente.

Ou seja, todo esforço vale a pena para que os Brics ampliem seu protagonismo internacional. Quem sabe, ganham maior poder de pressão para cobrar mudanças no FMI e também no Conselho da ONU. E o Brasil, vale destacar, não saiu de mãos vazias. Vai presidir o Conselho de Administração, que definirá as estratégias do braço financeiro dos cinco países. Há que ficar, porém, de olho vivo em relação à China, que não para de crescer e é bem mais forte do que seus parceiros nos Brics. A China é muito espaçosa.

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