Por bruno.dutra

No primeiro relato, um dirigente do PT passeava em importante shopping da capital, quando foi abordado por um homem de meia idade, elegantemente vestido. Perguntou se estava se dirigindo ao parlamentar do PT e, diante da confirmação, estendeu a mão para o cumprimento. Em seguida, exclamou: “Espero que o País se livre de vocês nas próximas eleições!”. Deu as costas e saiu apressado, sem permitir reação. Situação ainda pior viveu a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, que é candidata à Câmara Federal, durante um fim de semana em São Paulo. Com o tablet na mão, num lugar da moda, foi intimada a se retirar por outro frequentador da casa, aos gritos de “saia já, isso aqui não é lugar para petistas”. Luizianne ficou espantada, mas não arredou pé, para irritação ainda maior do agressor.

Na opinião de raposas petistas, poucas vezes se viu clima tão hostil. “É muito estranho. Nos meus anos de política, nunca enfrentei esse grau de rejeição”, comentou há dias um fundador do PT. O descontentamento, como era de se esperar, não está limitado a atos isolados de um ou outro eleitor. É fenômeno mais abrangente, tanto assim que tem se refletido nas pesquisas de opinião. Enquanto o índice de rejeição à presidente Dilma no país é de 35% (considerando quem considera seu governo ruim e péssimo), em São Paulo chega a 47%, segundo o Datafolha. Também é muito baixa a cotação do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato ao governo do maior estado da Federação. Na última pesquisa do Ibope, ele aparece longe dos primeiros colocados, com 5% das intenções de voto, e no Datafolha com 4%.

Não é por acaso que os tucanos despontam como favoritos tanto para o Palácio dos Bandeirantes quanto para o Senado. Com a mudança no humor dos eleitores desde os idos de junho do ano passado, nem em seus sonhos o governador Geraldo Alckmin poderia prever que, hoje, estaria com 50% das intenções de voto, contra 11% do segundo colocado, o presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf. Derrotado por Lula e depois por Dilma na corrida à Presidência, o ex-governador José Serra também deve estar feliz da vida. Segundo o Ibope, ele tem 30% dos votos, contra 23% de Eduardo Suplicy, na disputa pela vaga de senador. O simpático Suplicy corre o risco de ficar sem mandato depois de 24 anos. E, mais complicado para o PT, é que, no rastro de uma vitória dos tucanos, Aécio Neves pode abrir grande diferença em São Paulo, levando a disputa sucessória para o segundo turno.

Obviamente, o PT não está de braços cruzados à espera do xeque-mate. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, admite que o quadro é difícil, mas promete reação. “O Padilha vai crescer, não tem como o Padilha ter apenas 4% dos votos”, diz Rui, prevendo que tudo vai melhorar com o início da campanha na TV. Ele demonstra a mesma confiança em relação à presidente Dilma. A propaganda oficial, explica, permitirá que o governo mostre suas realizações. No comitê da reeleição em Brasília, todos também apostam que é possível virar o jogo em São Paulo. Prova disso foi a escolha do mote de campanha anunciado pela própria Dilma na sexta-feira: “A verdade vencerá o pessimismo”. Resta saber qual será a resposta dos eleitores paulistas quando as urnas se abrirem em 5 de outubro.

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