Por bruno.dutra

Como a possibilidade de vitória no dia 5 de outubro tornou-se remota, os principais assessores da candidata do PT à reeleição já começam a traçar a estratégia para a disputa do segundo turno. Eles dizem que não se trata propriamente de uma guinada de rumo, mas da necessidade de se adaptar à nova realidade. Consideram que o programa no horário eleitoral, alvo de críticas, cumpriu o efeito desejado.

O tucano Aécio Neves, no debate da TV Bandeirantes, chegou a afirmar que “o sonho de muita gente é morar na propaganda do PT, onde não há desemprego”. Apesar da ironia, os petistas não dão o braço a torcer. Explicam que, no primeiro momento, era importante ressaltar as grandes obras e os avanços sociais nos doze anos de Lula e Dilma. Pesquisas internas com eleitores mostraram que a resposta foi positiva.

Mesmo assim, haverá mudanças no roteiro. O programa de Dilma voltará o foco para as demandas por melhorias nos serviços essenciais. Embora ressalte que 50 milhões de pessoas foram atendidas pelo “Mais Médicos”, a presidente reconhecerá a necessidade de reforçar o dispêndio com a Saúde. Também vai dar prioridade aos investimentos em Educação, com ênfase na educação básica e na formação de técnicos. Ela dirá que este é a chave para elevar a produtividade da indústria.

Outro ponto, também remanescente dos protestos do ano passado, é a mobilidade urbana. Será mostrado que as condições de trânsito pioraram, em parte, por causa do aumento de renda da população, ao permitir que a classe média baixa tivesse acesso ao primeiro automóvel. A ideia básica é a seguinte: existem problemas no país, mas o governo tem feito o possível para solucioná-los. Vai fazer mais.

Para além da propaganda, cresce no núcleo da campanha a convicção de que chegou a hora de tirar Marina Silva da zona de conforto. Concluiu-se que a ex-ministra só cresceu na reta final do primeiro turno em 2010 porque Dilma e José Serra atiraram um no outro e deixaram Marina correr por fora, livre, leve e solta. Desta vez, o PT quer encurtar a margem de manobra de Marina e espera que espera que Aécio Neves também reaja, elevando o tom de suas críticas à ex-ministra. “Acho que Aécio não vai entregar os pontos tão fácil.

Ele ainda sonha com o segundo turno”, prevê uma fonte do PT. A esta altura, é fundamental que Aécio lute para sustentar uma parcela significativa de votos. Só assim evitará um crescimento maior de Marina, ajudando a espantar o fantasma de uma vitória dela no primeiro turno.

As pesquisas diárias do comitê de Dilma ainda apontam a presidente à frente no primeiro turno. Mas a palavra de ordem é uma só: atacar os eventuais pontos vulneráveis da nova adversária. Para o PT, é inconcebível, por exemplo, o apoio de Marina à autonomia do Banco Central. Seria o mesmo que estabelecer a submissão da política aos anseios do mercado financeiro. E criaria grande incerteza sobre os limites do orçamento e das taxas de juros.

Na seara política, a falta de base parlamentar de Marina será comparada à situação enfrentada por Fernando Collor e Jânio Quadros, presidentes que naufragaram em meio a crises institucionais. “Nesse aspecto, a eleição de Marina seria uma temeridade”, afirma uma raposa graduada do PT. Este será o tom da campanha daqui em diante. É fogo cerrado.

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