Por marta.valim

Ao afirmar que, se reeleita, fará mudanças na economia e também na equipe econômica, a presidente Dilma Rousseff antecipou o fim da passagem de Guido Mantega pelo Ministério da Fazenda. Mais longevo ministro da história democrática, Mantega ocupou o cargo por mais de oito anos, superando o tucano Pedro Malan e perdendo apenas para Arthur Souza e Silva, que atravessou a ditadura Vargas. Se está lá desde 2006, quando substituiu Antonio Palocci no segundo mandato de Lula, não foi por acaso. Técnico disciplinado e ciente de sua responsabilidade, o economista, que nasceu em Genova e veio na infância para o Brasil, destacou-se como articulador dos programas de governo do PT. Com a chegada ao poder, começou no Planejamento, passou pela presidência do BNDES e depois chegou à Fazenda. Sua ascensão foi lógica e merecida.

No primeiro governo de Lula, os holofotes se concentravam em José Dirceu, à frente da Casa Civil, e em Antonio Palocci, que conquistara a confiança dos empresários com o respeito estrito aos fundamentos da economia e às leis do mercado. No Banco Central, brilhava a estrela de Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do Bank of Boston e presença surpreendente na administração petista. Mas Mantega aos poucos foi acumulando prestígio, até que, com a saída de cena de Dirceu e Palocci, assumiu o comando da política econômica, ao lado de Meirelles. Entre ele e o presidente do BC, desde o primeiro momento, ficou ostensiva a diferença de visões: o ministro da Fazenda com formação desenvolvimentista e Meirelles defensor da ortodoxia. Mas os dois conviveram de forma respeitosa.

O grande momento da gestão de Mantega aconteceu durante a crise internacional provocada pelo estouro no mercado de hipotecas nos Estados Unidos. Em meio à quebradeira de bancos na Europa e nos EUA, ele apostou todas as fichas no Brasil. Contrariando as previsões pessimistas, confiou na força do mercado interno para enfrentar a forte turbulência que vinha do exterior. Crescia no país o consumo da nova classe média, alimentada pelos programas sociais do governo. O ministro enxergou no efeito renda a tábua de salvação da economia brasileira. Em regime de urgência, reduziu o compulsório dos bancos, fez rodar a máquina de crédito e baixou pacotes de incentivo ao consumo, com a redução de IPI na compra de automóveis. Deu certo e, nos fóruns internacionais, Mantega passou a ser recebido com tapete vermelho. Também virou tema de capa de órgãos da imprensa estrangeira, como “The Economist” e “Financial Times”.

O período de lua de mel foi longo e também, no Brasil, o ministro venceu as resistências do mercado financeiro. Tornou-se personagem central de palestras e seminários. Os ventos, porém, começaram a mudar a partir de 2012, quando a economia brasileira deixou de responder aos incentivos oficiais. Com as famílias endividadas, a fórmula do consumo e “a nova matriz econômica” que se baseia nos investimentos públicos pararam de funcionar. A produção industrial começou a cair, afetando o crescimento do PIB, mas Mantega insistiu na fórmula que dera bons frutos na crise dos subprimes. Insistiu também em vender seu proverbial otimismo. Se conseguiu navegar ao largo da tempestade uma vez, sairia vitorioso novamente.

O ministro, porém, não teve a mesma sorte. O país parou de crescer no ano em que Dilma Rousseff busca a reeleição. Daí, o anúncio antecipado da despedida de Mantega.

Você pode gostar