Após contribuir para o trabalho de demolição de Marina Silva, eles já se preparavam para investir contra o candidato do PSDB. Mas, diante de pesquisas que mostram o tucano à frente da presidente Dilma Rousseff, mudaram de tom. Lembram o famoso exemplo de contorcionismo do jornal monarquista “Le Moniteur”, de Paris, ao noticiar a fuga de Napoleão Bonaparte da Ilha de Elba, em 26 de fevereiro de 1815. Em sua primeira manchete, o jornal atacou: “O monstro fugiu do local do exílio”. Dias depois, voltou à carga e advertiu que “o usurpador” estava a 60 horas da capital. Até que se rendeu ao noticiar que “Sua majestade o imperador entra solenemente em Paris”. E por fim veio a adesão irrestrita e laudatória: “Viva o Imperador!”.
Como se sabe, Napoleão foi recebido em festa e governou a França por 100 dias, até ser derrotado em Waterloo pelo general inglês Wellington, em 18 de junho de 1815 (no ano que vem será lembrado o bicentenário da batalha). Não se conhece exatamente a reação do “Moniteur”, mas o jornal deve ter sido impiedoso com o derrotado. Portanto, Aécio que trate de se precaver. Se ele passou a merecer uma cobertura equilibrada da mesma mídia eletrônica que bateu pesado em Marina, pode rapidamente se transformar em alvo de raivosos ataques se a maré virar a favor de Dilma.
Tudo vai depender dos rumos da campanha. O PT saiu desnorteado do primeiro turno, mas não vai entregar o poder sem luta. Dispõe de máquina azeitada e vai acioná-la sob o comando do ex-presidente Lula. O experiente marqueteiro João Santana também está reunindo munição para o tiroteio no programa eleitoral na TV.
Até o domingo 26 haverá tempo suficiente para enfrentar a onda Aécio. Mas, como dizem na Fórmula 1, chegar é uma coisa, passar é bem diferente. No caso de Marina Silva, a estratégia de desconstrução surtiu efeito quase imediato. A ex-ministra sentiu os golpes, deixou-se abater e não conseguiu reagir. Deu a outra face, inspirada no Evangelho, como disse. Com Aécio, o desafio de Santana é muito maior. Aos 54 anos, o tucano tem trajetória de peso. Foi deputado federal, presidente da Câmara, governador de Minas Gerais e atualmente é senador da República.
Seu avô Tancredo Neves pertence à história. Ministro da Justiça de Getúlio Vargas, recebeu do presidente a caneta com que ele escreveu a carta testamento antes de se suicidar em 24 de agosto de 1954. Não bastasse este forte simbolismo, Tancredo fez de tudo em sua carreira. Foi primeiro-ministro no governo João Goulart, governador de Minas e presidente eleito do Brasil, em eleições indiretas em 1985.
Aécio Neves chegou à política pelas mãos do avô e agora tem a oportunidade de assumir o cargo que Tancredo não pôde ocupar por obra do destino. Parece que será pura perda de tempo o PT tentar desidratá-lo com o mesmo método que aplicou a Marina. O que o PT e João Santana têm a fazer é mostrar, de forma objetiva, as propostas de Dilma Rousseff para um segundo mandato. Desta vez, tudo indica que é melhor construir do que desconstruir. Mas é bom tomar cuidado com áulicos e oportunistas. Ao estilo do “Moniteur”, de Paris, eles mudam de posição ao sabor do vento e das pesquisas de opinião.