Em abril de 2007, o economista Júlio Gomes de Almeida, então secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, fez duras críticas à política de juros do Banco Central e ao seu efeito sobre a taxa de câmbio. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”ele afirmou que a valorização do real, provocada pela alta nos juros, estava prejudicando as empresas. E fez uma projeção bastante sombria: naquele passo, o câmbio valorizado iria contribuir para a desindustrialização do país. Sua crítica teve repercussão no Banco Central e muita gente desconfiou que o autor da avaliação, na verdade, estava se despedindo do governo. O que veio a se confirmar dias depois, quando o ministro Guido Mantega anunciou um novo titular para a secretaria de Política Econômica.
Em resposta ao diagnóstico de Julinho, que é doutor em economia pela Unicamp, Mantega garantiu que a indústria de transformação ia muito bem e defendeu a estratégia do Banco Central, tanto em relação aos juros quanto ao câmbio. De lá para cá, passaram-se mais de sete anos. E os fatos acabaram por mostrar que quem estava certo era Júlio Gomes de Almeida. Encurralada pelo Custo Brasil e pelas restrições da política monetária, a indústria brasileira não parou de perder fôlego. No início deste ano, em entrevista ao Brasil Econômico, o vice-presidente do Conselho Superior de Economia da Fiesp, Paulo Francini, advertiu que é uma ilusão pensar em crescimento vigoroso sem uma indústria forte. Ele lembrou que, na década de 80, o setor chegou a responder por 24% do PIB, mas em 2012 sua participação não passou de 13,6%. “Se nada acontecer em quatro ou cinco anos, a indústria pode cair para 9% do PIB”.
Nas projeções da Fiesp, a participação da indústria no PIB este ano será de apenas 12,6%. Segundo estudo da entidade paulista, divulgado pelo “Globo”, em 1947 a economia brasileira era fortemente concentrada na agricultura, mas a indústria nacional já contribuía com 11,3% do PIB. O nível atual, pouco acima de 12%, assemelha-se ao registrado nos anos 60, durante o governo de Juscelino Kubitschek. A conclusão da Fiesp é de abalar até mesmo o otimismo de ferro de Guido Mantega: “A participação da indústria no PIB encolheu 30,8% (entre 2004 e 2012). Se o atual cenário não se alterar, em 2029 a indústria de transformação vai representar apenas 9,3% do PIB”.
Economista de formação (só não concluiu o mestrado na Unicamp por pura falta de tempo), a presidente Dilma Rousseff sabe que a crise da indústria ameaça a perspectiva de crescimento em seu segundo mandato. Algo tem de ser feito. E, pelo visto, esta será uma tarefa para o novo ministro da Fazenda, que também terá de realizar um ajuste fiscal em escala que se adapte às determinações da presidente (ela já avisou que está disposta a fazer o dever de casa, mas sem cortes mais agudos). O que Dilma planeja para a economia deve ser tema de suas conversas com Mantega e Alexandre Tombini na longa viagem à Austrália para a reunião do G-20. Além de alinhavar a política econômica, os três certamente trocarão ideias sobre os candidatos à vaga na Fazenda. O escolhido vai trabalhar a quatro mãos com Tombini, que foi integrado às pressas à comitiva oficial. Se Mantega está de saída, Tombini é nome forte do próximo governo. E conhece muito bem os gargalos da indústria.