Por monica.lima
Em outubro de 1992, no meio da CPI do Orçamento, surgiram acusações contra o chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, que era amigo pessoal do presidente Itamar Franco. Insinuava-se que Hargreaves, ao tempo em que era funcionário graduado do Câmara, deveria ter tomado conhecimento dos desvios de verbas praticados por parlamentares. Não havia provas e nem mesmo indícios mais concretos. Mas, diante da mera suspeição, Hargreaves pediu afastamento do cargo temporariamente em 1º de novembro, enquanto os fatos eram apurados. Três meses depois, em fevereiro de 1994, as investigações demonstraram que nada pesava contra o ministro, que reassumiu o posto e recebeu elogios públicos pela decisão de se licenciar no período de acusações. “Não houve nenhuma acusação específica sobre a Casa Civil, mas mesmo assim achei por bem me afastar. Eu não podia deixar que isso prejudicasse o presidente. Na verdade, queriam atingir Itamar”, contou Hargreaves, anos depois.
O caso Hargreaves sempre vem à lembrança quando algum integrante do primeiro escalão do governo está envolvido em apuros. Foi assim quando José Dirceu deixou a Casa Civil em julho de 2005 após as denúncias de Roberto Jefferson e também, em setembro de 2010, no episódio que abateu Erenice Guerra, a substituta de Dilma Rousseff na chefia da Casa Civil, alvo de denúncias sobre tráfico de influência no governo exercido por seu filho. Erenice, que era fiel escudeira de Dilma e assumiu o cargo quando a chefe se desligou para concorrer à Presidência, negou as acusações e recebeu pronta solidariedade. A imprensa, porém, levantou novos documentos sobre a oferta de facilidades. Erenice continuou a se defender, disse que tudo não passava de uma campanha eleitoreira, mas, ao fim de uma semana de noticiário, não suportou a pressão e pediu demissão. Sua insistência ameaçava prejudicar a campanha de Dilma.
Publicidade
Hoje, temos novo escândalo na praça com revelações espantosas sobre negociatas envolvendo diretores da Petrobras. O forte desgaste provocado pelas denúncias derrubou pela metade o valor de mercado da estatal, que voltou ao nível de 2005. A empresa corre o risco de perder o grau de investimento, o que criaria grande dificuldade para a captação de recursos no exterior. Nesse cenário sombrio, muitos analistas recomendam a imediata substituição da diretoria como forma restaurar a credibilidade da empresa. Sensível às pressões, a própria presidente da Petrobras, Graça Foster, não só pôs o cargo à disposição de Dilma Rousseff, como disse à imprensa que só continuará no posto enquanto contar a confiança da presidente.
Em café da manhã com os jornalistas que cobrem o Planalto, Dilma, ontem, voltou a defender a amiga e disse que não há motivo para afastá-la: “Eu não vejo nenhum indício de irregularidade na atual diretoria da Petrobras. Quando não vejo irregularidade eu não posso querer punir”. De forma desabrida, teceu elogios à presidente da Petrobras: “Eu conheço a Graça, sei da seriedade da Graça, da lisura da Graça. Não tenho nenhuma indicação de que falta credibilidade para a Graça Foster”. Ela foi taxativa. “Eu queria a Maria das Graças Foster presidente. Eu levei um ano para construir essas condições. Eu não acho que indicação política seja algo ruim. Eu não vou demonizar aqui nomeação política. É de um simplismo grotesco. É a gente não ver um palmo na frente do nariz”. Poucas vezes se viu um presidente da República pôr a mão no fogo por um subordinado como Dilma fez ontem. Foi um belo gesto, mas tem lá os seus riscos.
Publicidade