Algumas nomeações de ministros provocam sobressalto, mas a presidente Dilma Rousseff deve saber aonde quer chegar com suas escolhas
Por douglas.nunes
Após ser escolhido pela presidente Dilma Rousseff para ocupar o Ministério da Ciência e Tecnologia, o ex-deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil, passou a apanhar mais do que boi ladrão. Palmeirense doente e ex-presidente da Câmara, ele foi ministro do Esporte durante a Copa do Mundo e também deu o pontapé inicial nas obras para as Olimpíadas de 2016. Exerceu sua função com eficiência no primeiro mandato de Dilma, sem ser alvo de críticas. Agora, o mínimo que se diz é que o perfil de Aldo bate de frente com a inovação tecnológica. Cita-se, como exemplo, seu projeto que, para preservar empregos, proibia o uso de computadores em repartições públicas. Fala-se também de sua iniciativa que pretendia proibir estrangeirismos até em placas de self-service. Aldo Rebelo tornou-se o símbolo maior das escolhas surpreendentes de Dilma.
A bem da verdade, o PCdoB mudou muito nos últimos anos. Abandonou a fé irrestrita no regime exótico de Enver Hoxa, que manteve a Albânia isolada do mundo, e soube incorporar a imagem de comunistas que antes acusava de revisionismo, como Luiz Carlos Prestes e Oscar Niemeyer. Festejou-os ao comemorar, em 2012, os 90 anos de fundação do primeiro partido comunista. Aldo Rebelo também soube abandonar velhos preconceitos. Durante a organização da Copa, deixou pública a indignação com comentários duros – e até desrespeitosos – do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Mas mostrou jogo de cintura e engoliu alguns sapos. Nacionalista ferrenho, o então ministro do Esporte sabia que não era a hora de enfrentar os senhores de Zurique. Muito mais importante era preservar a imagem do Brasil.
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É exatamente o bom desempenho de Aldo que causa estranheza na decisão de transferi-lo do Esporte. Mais estranha ainda é a nomeação do desconhecido deputado federal George Hilton (PRB-MG) para seu lugar. Pastor da Igreja Universal, a maior façanha de Hilton até hoje tinha sido sua detenção pela Polícia Federal em 2005, no aeroporto da Pampulha, com 11 caixas com cheques e notas no valor total de R$ 600 mil. Ele foi liberado após explicar que eram doações de fiéis, mas não escapou de ser expulso do PFL, do qual era deputado estadual. Obviamente, Hilton não tem intimidade com a área que lhe foi delegada. Mas não importa. O objetivo de sua nomeação é fazer um agrado no PRB, do senador Marcelo Crivella, e impedir que Eduardo Cunha , do PMDB fluminense, seja eleito presidente da Câmara em fevereiro.
A presidente Dilma deve saber aonde quer chegar com seu novo ministério. Se o pastor Hilton parece uma concessão radical à base aliada, merece aplausos a volta do ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias à Esplanada. Em sua passagem pelo Ministério do Desenvolvimento Social no governo Lula, Patrus foi responsável pela consolidação do Bolsa Família. Político íntegro como poucos e de assumida formação cristã, Patrus, ao deixar o cargo, voltou a dar aulas de Direito, sem mostrar qualquer apego ao poder. Admirador do pensador católico francês Jacques Maritain, ele é favorito para assumir o ministério do Desenvolvimento Agrário, com apoio do MST. Diante do sobressalto que provocam alguns nomes da lista de Dilma, Patrus Ananias é uma agradável exceção.