Por diana.dantas

Em 1989, o mercado de ações viveu a maior crise de sua história. Depois de entrar em conflito com a direção da Bolsa de Valores de São Paulo, por não aceitar a redução compulsória de suas aplicações em opções da Petrobras, o megaespeculador Naji Nahas transferiu-se de malas e bagagens para a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Foi recebido em festa, mas já não dispunha do mesmo cacife, pois várias instituições financeiras lhe fecharam as torneiras de crédito (na versão de Nahas, atenderam a pedidos do presidente da Bovespa, Eduardo Rocha Azevedo). Sem poder de fogo, Nahas não honrou os compromissos e arrastou a Bolsa do Rio para um buraco de R$ 450 milhões. No meio do tumulto, foi aberto processo na CVM e também uma investigação no âmbito do Congresso. Além de contratar experientes advogados, a Bovespa convidou para patrono de sua causa o renomado Evandro Lins e Silva.

Não havia como evitar, porém, a forte repercussão do chamado Caso Nahas nos meios de comunicação. As notícias e a apuração dos repórteres especializados ganhavam as primeiras páginas e o horário nobre da TV diariamente. Afinal de contas, a maior Bolsa do país estava envolvida diretamente no escândalo e a Bolsa do Rio, com a diretoria em pânico, corria o risco de fechar suas portas. Nahas, que chegou a ser preso, acusava Rocha Azevedo, que, por sua vez, responsabilizava o investidor pela quebradeira de corretoras cariocas. No meio do tiroteio, alguns membros da diretoria da Bovespa concluíram que a instituição estava se comunicando mal com a opinião pública. Contrataram, então, um grande publicitário que apontou uma solução milagrosa: para melhorar sua imagem, a Bolsa paulista deveria divulgar notícias positivas e explicar sua posição em matérias pagas. Simples como pôr o ovo em pé. Só que, diante da dimensão da crise e da avalanche de notícias negativas, a receita não funcionou.

Esta longa história de 1989 remete à situação atual do governo Dilma. Em discurso na primeira reunião ministerial, a presidente admitiu que, neste início de segundo mandato, está perdendo a batalha da comunicação. E recomendou que seus ministros partam para o contra-ataque, alimentando a mídia com boas notícias. Certamente, Dilma seguiu os conselhos de seus assessores e do marqueteiro-mor João Santana, o mago que conseguiu demolir as imagens de Marina Silva e Aécio Neves. Com larga experiência em campanhas eleitorais, Santana não teve dificuldades na tarefa de desconstruir os adversários políticos. Mas o desafio, agora, é reconstruir a imagem do governo. Pelo que se viu nos últimos dias, o Palácio do Planalto fará de tudo para convencer a opinião pública de que os problemas de gestão são passageiros, a corrupção será combatida a ferro e fogo e o Brasil, em breve, voltará a viver dias de muita prosperidade.

Se consultado por Dilma Rousseff, o grande publicitário que deu sua douta opinião sobre o Caso Nahas afirmaria hoje que não há qualquer crise, mas apenas um curto-circuito na comunicação oficial. Um problema perfeitamente sanável com boas doses de noticiário positivo. Há quem acredite piamente nisso. Ou seja, se os novos ministros aprimorarem o discurso, a maré vai virar a favor do governo. Seria uma questão de retórica. Mas também há quem diga que as más notícias não caem do céu. Não são obra de ficção. E não adianta brigar com os fatos.

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