Por diana.dantas

Venho de longe, como dizia o governador Leonel Brizola. Sou de um tempo em que o PT era o partido dos jovens e dos professores. Com o líder metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva na comissão de frente, o PT, no início dos anos 80, simbolizava o que havia de mais novo na política brasileira. Mesclava um romantismo quase ingênuo com o desejo de mudanças radicais. Era difícil resistir ao poder de encantamento dos petistas e das petistas. Os militantes que viviam na Zona Sul, no Rio, costumavam bater ponto no Bar do Beto, na rua Farme de Amoedo, em Ipanema. Em São Paulo, tudo acontecia em torno do endereço de Marta e Eduardo Suplicy, na Rua Grécia, nos Jardins. Ali, as festas atravessavam a noite dos sábados, com a dona da casa, já famosa sexóloga, tirando todos para dançar. Diziam que Lula era um tremendo pé de valsa.

Naquela época, dizia-se também que a criação do Partido dos Trabalhadores, a partir das greves dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, tinha o dedo do general Golbery do Couto e Silva, o estrategista do governo Ernesto Geisel. Interessava à ditadura reduzir a influência do Partido Comunista Brasileiro na classe média e entre os intelectuais e, simultaneamente, fechar as portas do movimento sindical para o trabalhismo de Brizola, que voltara do exílio. O PT de Lula nascia na hora certa e, por acaso ou não, viria a cumprir a tarefa desejada pelo “bruxo” do regime militar. À medida que cresceu, o PT tomou os espaços que o Partidão havia conseguido preservar nas entidades de classe e no meio acadêmico. Mas quem mais sofreu com os petistas foi, sem dúvida, Leonel Brizola. O confronto era implacável. O mínimo que se dizia do político gaúcho é que ele era populista e ultrapassado. Uma imagem viva do atraso.

O resto da história é conhecido. O PT atropelou as demais legendas de esquerda e tornou-se hegemônico. Após três tentativas frustradas, Lula foi o primeiro operário na história do país a assumir a Presidência e, depois, fez de Dilma Rousseff a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo da República. Por esta nem Golbery esperava: o PT comanda os destinos do Brasil há 12 anos e Dilma, numa disputa acirrada, ganhou direito a mais quatro anos. Tal feito seria motivo mais do que justo para uma festa de arrasa-quarteirão neste fim de semana em Belo Horizonte, quando o partido comemora os 35 anos de sua fundação. Para quem nas primeiras eleições pedia votos em Copacabana e no Jardim Paulista com o bordão anacrônico “Pão,Terra e Liberdade”, o PT, sem dúvida, foi longe demais. Mas passou dos limites.

Para um partido que, no passado, foi ocioso ao extremo com questões de princípio (cansou de expulsar quadros pioneiros, sem piedade), deve ser constrangedor ver seu tesoureiro acusado de arrecadar milhões de dólares em doações ilícitas. Chamado a depor pela PF, João Vaccari Neto recusou-se a abrir a porta da casa. Os policiais pularam o muro e o levaram para o depoimento coercitivo de mais de duas horas. Na saída, ele teria comunicado à cúpula do PT que foi apenas uma convocação de rotina. Portanto, depois do exemplo de Delúbio Soares no mensalão, o tesoureiro do PT cair nas garras da Polícia Federal virou rotina. Como se vê, abriu-se um fosso entre o PT sonhador de fevereiro de 1980 e o PT acomodado de hoje. O PT envelheceu mal. Não há mais festa nem na Rua Grécia, nem no Bar do Beto.

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