Por diana.dantas

A cena é chocante e está disponível na internet. O ex-ministro Guido Mantega, na companhia de sua mulher, aproxima-se da cafeteria do hospital Albert Einstein, provavelmente para fazer um pedido, quando uma senhora (de costas para a gravação) dirige-se a ele com um grau de violência que espanta. Chama Mantega de safado, enquanto um outro cliente que não aparece grita que o ex-ministro deveria ir para um hospital do SUS. Prudente, o economista prefere desviar de seus agressores e seguir em outra direção. Era a quinta-feira 19, em São Paulo, a maior cidade do país. Depois que as imagens apareceram esta semana, Mantega divulgou nota à imprensa na qual nega que tivesse sido expulso do local e explica que foram “palavras isoladas”. Ele diz que foi ao Einstein para visitar um amigo, tenta minimizar o fato e dá a polêmica por encerrada.

Mantega é assim mesmo: sempre foi muito educado com todos em seus oito anos e nove meses à frente do Ministério da Fazenda. Infelizmente, não é este o caso de seus agressores. Não foi a primeira investida que sofreu de gente insatisfeita com os rumos do país. Em dezembro, ao entrar no Astor, bar da moda da Vila Madalena, o ex-ministro foi recebido com aplausos que rapidamente se transformaram em vaias. Surpreso, retirou-se. Ali, poderia se atribuir os ânimos exaltados ao excesso de álcool e ao calor da noite. Mas o xingamento no Albert Einstein, hospital de referência no tratamento do câncer é inaceitável. Reservado, Mantega não costuma falar da vida pessoal, mas quem o conhece sabe que ele estava lá por causa de um grande amigo, que sofreu um infarto. E, nesta condição, foi alvo de impropérios. É lamentável.

Reprovável também foi a reação do presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, ao sair em defesa de Mantega. Em seu perfil no facebook, Quaquá, que também é prefeito de Maricá, conclama a militância de seu partido a “não engolir esses fascistas burguesinhos de merda!”. E faz a seguinte convocação: “Vamos pagar com a mesma moeda: agrediu, devolvemos dando porrada!”. Indagado sobre o motivo de tal destempero, argumentou que foi “desumano o que fizeram com Mantega, num hospital da pequena burguesia paulistana”. Quanto aos palavrões, disse que nasceu na favela e fala a linguagem do povo. Fica claro, portanto, que Quaquá incorre em miopia grave: acredita que falta de educação e palavreado chulo têm a ver com a origem social e pensa que as diferenças políticas se resolvem “na porrada”. Para que, então, exercer mandato eletivo e presidir um partido político?

Homem honrado e digno, Guido Mantega, como qualquer cidadão, deve ter assegurado o direito de ir e vir. E também merece uma defesa mais qualificada. Em seu longo ciclo no comando da Fazenda, cometeu mais acertos do que erros. Suas medidas anticíclicas foram fundamentais quando o Brasil passou ao largo da crise internacional de 2008/2009. Apostou no mercado interno e acertou na mosca. Agora, apontam-se apenas os equívocos dos dois últimos anos e lançam-se em sua conta todos os problemas atuais da economia brasileira, da inflação ao baixo crescimento. Ora, o adiamento de ajustes cruciais ajudou na reeleição de Dilma e não foi decisão exclusiva do ex-ministro. É injusto deixá-lo exposto à chuva e ao sol. Alguém, de patente superior à do prefeito Quaquá, devia sair em defesa de Guido Mantega. Ainda está em tempo.

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