Por monica.lima

Mesmo quem vem de longe está tendo dificuldades para decifrar algumas práticas novas do governo Dilma Rousseff, no início do segundo mandato. Ontem, por exemplo, houve motivo para aumentar a perplexidade geral. A partir de pequena nota jornalística sobre o destino do ministro Aloizio Mercadante, o Palácio do Planalto reagiu com um comunicado curto e grosso, garantindo que “a presidenta Dilma Rousseff não mudará o ministro da Casa Civil”. Eis a íntegra do desmentido oficial: “Não corresponde à verdade o rumor de que a presidenta Dilma Rousseff tenha recebido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sugestão de mudança na chefia da Casa Civil. O ministro Aloizio Mercadante tem total confiança da presidenta e seguirá cumprindo suas funções à frente da Casa Civil”. Como se vê, o Palácio do Planalto gastou munição pesada para abater mero rumor divulgado pelo colunista Ilimar Franco.

A reação quase gera efeito inverso ao desejado. Poucas vezes se difundiu um boato de forma tão enfática. Quem não sabia da nota ficou sabendo. Até parece que o ex-presidente Lula, de fato, aconselhou Dilma a reorganizar a articulação política do Planalto. Colegas de redação mais céticos dizem que o desmentido da presidente Dilma lembra momentos folclóricos do futebol, quando a diretoria de um clube garante que o técnico está prestigiado para derrubá-lo logo em seguida. O certo é que onde há fumaça há fogo. Lula não morre de amores por Mercadante, que continua firme no comando da Casa Civil. É o ministro que transmite aos demais colegas de governo as orientações da presidente e que faz as cobranças necessárias, também por delegação. O ex-senador do PT exerce função estratégica, o que deve deixá-lo orgulhoso e envaidecido. Dizem até que ele almeja ser o sucessor de Dilma.

O problema de Mercadante não é propriamente o cargo que ocupa, mas, sim, as atribuições que acumulou para além das tarefas rotineiras de sua pasta. Diante do vôo limitado do ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, o atual chefe da Casa Civil assumiu a frente da articulação política do governo Dilma. Não chega a ser usurpação de poderes, mas é, sem dúvida, a ocupação de um espaço vazio. Dilma, por exemplo, não atuou assim no tempo de ministra da Casa Civil de Lula (até porque seu perfil não é este). Limitou-se às funções e responsabilidades executivas, que não são poucas. A senadora Gleisi Hoffmann, que ocupou a pasta no primeiro mandato de Dilma, também não foi além dos encargos institucionais. Na verdade, chefes da Casa Civil que se dedicaram aos conchavos políticos não tiveram vida longa. Vejam-se os casos de José Dirceu e Antonio Palocci. Obviamente, Mercadante corre o mesmo risco.

Quanto aos ministros das Relações Institucionais, é bom que se diga que o gaúcho Pepe Vargas não é o primeiro deles a fracassar. Vários nomes saíram chamuscados no exercício da mesma tarefa. A lista inclui Miro Teixeira, Tarso Genro, Aldo Rebelo, Alexandre Padilha, Ideli Salvatti, entre outros. Os partidos da base aliada não se sentem confortáveis ao serem atendidos por intermediários do Planalto. Exigem acesso direto ao gabinete da Presidência, o que transforma as Relações Institucionais numa espécie de caveira de burro. Aloizio Mercadante sabe disso e tomou para si a articulação política. Ambicioso, apresentou-se como a salvação da lavoura. Mas o momento é muito difícil, como admite Dilma. E os conflitos da base aliada podem acelerar a fritura de Mercadante.

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