Ao elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual na reunião da semana passada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central informou que a decisão teve por base “o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”. Jogou a Selic para 13,25% ao ano e mais não disse. Enquanto aguarda a justificativa mais aprofundada a partir da divulgação da ata da reunião nesta quinta-feira, o mercado financeiro faz suas apostas. A maioria dos especialistas acredita que haverá nova alta de 0,25 ponto em junho, levando a taxa a 13,50%. Mas o que virá depois disso? Será ou não encerrado o atual ciclo de alta? Na pesquisa Focus de ontem, a expectativa foi de que a Selic sofrerá novo ajuste na próxima reunião do Copom e fechará 2015 em 13,50%, sem redução para 13,25% até novembro, como se previa antes.
Na BM&F, porém, há quem faça aposta ainda mais radical. Informa o sempre antenado Luiz Sérgio Guimarães que os contratos futuros sinalizam Selic de 14% ao ano, com aumentos de 0,50 ponto em junho e 0,25 em julho. Ou seja, acredita-se que a diretoria do BC, desconfiada do êxito do ajuste fiscal do ministro Levy, voltaria a apertar o torniquete monetário na tentativa de controlar a inflação — que, por sinal, tem se mostrado resistente à alta dos juros. Coerentes com seus prognósticos, os analistas, a cada semana, preveem um desempenho pior da economia. Em sua última projeção, o boletim Focus indicou contração de 1,18% do Produto Interno Bruto em 2015, contra a previsão de queda de 1,10% da semana passada.
Explica o Banco Central — e certamente voltará a fazê-lo na próxima ata do Copom — que a dose excessiva de juros é eficiente e necessária. Só assim estará garantida a volta da inflação ao centro da meta no fim do ano que vem. Esta, na visão do BC, é uma condição fundamental para recuperar a confiança de consumidores e empresários. Na verdade, fica-se sem saber por que as reuniões do Copom são tão demoradas. Começam na terça-feira e terminam em torno das oito horas da noite da quarta-feira. Ora, se há unanimidade na interpretação do “cenário macroeconômico” e certeza de que o arrocho monetário vai dar o resultado esperado, já é hora de encurtar a duração dos encontros. Daqui em diante, os diretores do BC poderiam antecipar sua decisão e dar o voto ou via internet ou até mesmo pelo WhatsApp. A ata das reuniões também poderia ser abreviada. Para que mais de 40 itens? Para que repetir que a inflação afeta o ânimo das famílias e empresas?
Diante dos previsões cada vez mais pessimistas sobre o PIB deste ano, o Banco Central, com sua fé inquebrantável no recorde mundial de juros reais, assemelha-se ao lorde inglês que traçou um plano para economizar na alimentação de seu cavalo. Aos poucos, ele foi reduzindo a ração diária. O cavalo enfraqueceu, mas o zeloso proprietário continuou a aplicar a poderosa dieta. Num determinado momento, chegou a comemorar, pois as despesas com a ração despencaram. Houve, porém, um problema não previsto em seus cálculos: o animal deixou de manter de pé e dias depois morreu de inanição. Portanto, a diretoria do BC que se cuide. Suas doses cavalares de juros podem ajudar a combater a inflação. Mas, em lugar de injetar confiança na sociedade, o efeito colateral pode ser a inanição da economia brasileira. Com os males que traz: recessão e desemprego.