Por diana.dantas

A cena se repete toda manhã lá na Usina, ao pé da Floresta da Tijuca. As crianças vão chegando por volta das 7 horas da manhã, de mãos dadas com os pais e as mães. Alegres e falantes, têm pressa de encontrar os colegas e contar as novidades. Antes de subirem para as salas de aula do tradicional colégio da Zona Norte do Rio, reúnem-se no pátio e são saudadas pela diretora: “Bom dia, primeiro turno!”. Elas respondem em coro e, em seguida, acompanham uma gravação do Hino Nacional. Cantam com vontade e sem confundir a primeira parte com a segunda parte como costumam fazer os adultos. São brasileirinhas e brasileirinhos com muito orgulho e muito amor. Aconteça o que acontecer, levam nas mãos o futuro da nação.

Confesso que habituei-me a ouvir nosso hino cantado pela criançada tijucana. Fico emocionado, mas ao mesmo tempo me angustia ver o Brasil nesses dias de baixa autoestima. Sucederam-se tantas notícias ruins que é difícil manter o ânimo. A esta altura, depois das seguidas explicações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não há mais discussão sobre a necessidade do ajuste fiscal, que aos poucos, graças a intensas negociações, vai sendo aprovado pelo Congresso. Inevitável o aperto orçamentário, só resta conviver com seus efeitos colaterais. Ontem mesmo, saiu mais uma estatística negativa. As vendas do comércio foram as piores de um primeiro trimestre nos últimos doze meses. E o que mais pesou foi a queda de movimento nos supermercados. Ou seja, as famílias começam cortar as despesas com alimentação.

Em Londres, Levy afirmou que a desaceleração da economia é temporária. Se tudo correr bem, após o sacrifício deste ano, ainda teremos dias de bonança até o fim do governo Dilma Rousseff. A sinceridade do ministro lhe vale muitos aplausos no exterior, principalmente quando se dirige a dirigentes do mercado financeiro. Todos consideram que ele está corrigindo os erros cometidos no passado. Por aqui, a reação não é tão calorosa. A indústria está pagando um preço alto e o desemprego cresce. Mas, sem dúvida, diminuiu a rejeição ao pacote de maldades. De tanto insistir, Levy conseguiu apoio até mesmo entre parlamentares da oposição. O DEM ajudou a aprovar pontos do ajuste fiscal.

A confiar em Levy, o Brasil vai sair do buraco mais forte, com as contas públicas equilibradas. Mas, se esta é mesmo a crença do ministro, chegou a hora de seu discurso ir além da receita amarga. Em artigo recente, ele afirmou que se inspira nos ensinamentos do general George Marshall, que ajudou os Estados Unidos a saírem vitoriosos na II Guerra Mundial. Talvez por falta de espaço, Levy não deu destaque a outra realização do comandante norte-americano. Foi Marshall quem convenceu o Congresso dos EUA a criar uma bilionária linha de investimentos para a reconstrução dos países europeus, inclusive a Alemanha. Houve pressão contrária de senadores conservadores, como Joseph McCarthy, que não concordaram com o auxílio aos ex-inimigos. Mas prevaleceu a visão de Marshall. Tanto assim que o plano de ajuda recebeu seu nome e lhe fez merecer o Prêmio Nobel da Paz de 1953.

Por enquanto, Levy só acena com os efeitos dolorosos da guerra para pôr a economia em ordem. Bem que o ministro da Fazenda poderia seguir os passos do general Marshall e apresentar ao país as bases de um plano de desenvolvimento. Com luz no horizonte, as famílias brasileiras dormiriam mais tranquilas.

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