Além desse descompasso entre mercado de trabalho e demanda agregada, a recuperação norte-americana apresenta pelo menos três desafios (inter-relacionados) para a economia global. Em primeiro lugar, ela aumenta a pressão por uma reversão da política monetária do banco central norte-americano. Esta reversão pode abortar a recuperação já frágil do mercado imobiliário e de consumo no país — sendo que esse último é evidentemente fundamental para que os EUA sejam uma locomotiva de crescimento do comércio. Em segundo lugar, a recuperação norte-americana pode gerar uma escassez de capital nos mercados financeiros internacionais, especialmente para aqueles que mais necessitam de recursos para a retomada de crescimento. Por fim, taxas de juros norte-americanas mais elevadas provocam, em países periféricos, pressões por políticas mais conservadoras para conter desvalorizações excessivas e um crescimento da divida publica gerada pela própria expansão dos juros.
Se a recuperação dos EUA vem cercada de riscos por todos os lados, o desempenho das demais grandes economias deixa a desejar. As possibilidades de recuperação na zona do euro são mínimas. Por exemplo, é alarmante o fato de a Alemanha ter comemorado um crescimento de 0,1% no terceiro trimestre, evitando que a economia entrasse em recessão técnica. Os problemas da Europa somente aumentam na medida em que ampliam as crises regionais mal resolvidas, sejam as geopolíticas (Ucrânia) ou as econômicas (Russia, Grécia, etc).
Na Ásia, nada de muito animador parece ocorrer. O Japão, por exemplo, não para de decepcionar aqueles que acreditavam nos poderes milagrosos da política pouco convencional adotada pelo governo desde 2012. De fato, a breve (porém robusta) recuperação japonesa, obtida através de uma política monetária super-expansionista, não resistiu ao aumento dos impostos sobre consumo - que objetivava manter sob controle sua divida publica. Enquanto isto, a China continua com uma clara perda de dinâmica da produção industrial - sem contar com o risco financeiro gerado pelo aumento do endividamento privado e provincial.
Se olharmos para os parceiros sulamericanos, as perspectivas de 2015 tão pouco são muito brilhantes. Por exemplo, a Argentina, que se encontra em situação delicada financeiramente, ameaça embarcar numa recessão. Enquanto isto no México, as comemoradas reformas do atual governo ainda não se mostraram positivas para o quadro econômico - e a pouca recuperação parece vir mesmo, como sempre, no rastro dos EUA, responsável por 70% das exportações. E, por fim, o Brasil, passará por ajustes importantes, que sem dúvida gerarão custos adicionais para um crescimento que já esta demasiado fraco.
Do jeito que as coisas vão, não se pode esperar que 2015 seja um ano de recuperação global. Muito menos podemos apostar no comércio internacional para a recuperação da economia brasileira em 2015, ou em 2016. Se tivermos clara esta perspectiva, e ousarmos políticas que estimulem o investimento doméstico sem gerar problemas de balanço de pagamento, há, sim, esperança de um Feliz 2016.