Por diana.dantas

Neste momento de crise global e incertezas, só aumenta a demanda sobre bancos de desenvolvimento das principais economias mundiais. O desafio para essas instituições tem sido como responder a essa demanda com uma utilização racional de escassos recursos públicos. Esse é um fenômeno que deveríamos acompanhar com mais atenção.

Até recentemente havia um viés dos economistas em ver essas instituições públicas como intermediários financeiros que existem em função de falhas de mercado e de baixo desenvolvimento financeiro doméstico. Hoje em dia, parece prevalecer uma visão distinta: primeiramente, os modernos bancos de desenvolvimento, que existem em nações industriais desenvolvidas e “emergentes”, são cada vez mais percebidos como “bancos de conhecimento”: corporações que possuem corpos técnicos com experiência em uma ampla gama de setores com investimentos de grande impacto e alto risco. Por isso, acabam por acumular um conhecimento único de soluções financeiras e práticas para projetos complexos cruciais ao desenvolvimento socioeconômico, raramente encontradas em instituições financeiras privadas. Em segundo lugar, são vistos como instrumentos centrais na coordenação e implementação de políticas públicas. Ou seja, ao contrário da lógica dos intermediários privados, a concessão de crédito não é um fim, mas sim um canal para fazer chegar a empresas, indivíduos e governos outros bens públicos — por exemplo, tecnologia, aprimoramento e treinamento de pessoal, promoção da exportação — através de investidores estrangeiros.

São essas duas características que explicam a centralidade de bancos de desenvolvimento modernos gigantes (a KfW da Alemanha, o Banco do Desenvolvimento da Coreia do Sul ou o da China, só para citar alguns) que procuram novos caminhos para o crescimento e o desenvolvimento nacionais. De fato, criados a partir do pós-guerra para financiar os esforços de (re)construção da base produtiva e da infraestrutura de algumas economias industriais, essas instituições são hoje partes centrais das políticas de transformação de suas bases produtivas e suas matrizes energéticas,de ampliação da produtividade e competitividade, de inovação tecnológica e de expansão de mercados.

E não para por aí: hoje em dia essas instituições são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento de instrumentos privados de financiamento. Há muitos anos, elas vêm utilizando-se de fundos de garantias como forma de alavancar financiamento privado para projetos em sua carteira. Porém, cada vez mais, utilizam-se também de securitização de parcela de seus ativos e outras engenharias financeiras que permitem mitigar riscos para a colocação de ativos junto a investidores institucionais, nacionais e internacionais. Esses tipos de operação têm duas enormes vantagens: por um lado, ampliam a capacidade de alavancar recursos para empreendimentos prioritários; por outro, acabam por criar mercados privados para títulos lastreados em ativos que seriam normalmente recusados por investidores privados pelo seu alto risco.

Analisar essa experiência parece útil para informar o debate brasileiro. Afinal estamos abandonando o modelo de financiamento do investimento muito dependente de empréstimos do Tesouro. Mas ainda pouco se discute sobre como realizar uma transição sem que essa mudança afete a oferta total de financiamento de longo prazo e/ou o “papel único” que uma instituição como o BNDES hoje desempenha. Se formos além das discussões mais abstratas, e nos debruçarmos mais sobre os casos concretos, essa transição parece mais factível. Volto ao tema no próximo artigo.

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