Por diana.dantas

Desde 1948, um banco de desenvolvimento (KfW) tem sido peça fundamental para a Alemanha tornar-se a potência dos dias de hoje. Tudo isso com um modelo de negócios que une austeridade, transparência e acesso a recursos privados. O Brasil pode e deve aprender com o modelo. O nome de batismo da KfW (Kreditanstalt für Wiederaufbau) pode ser traduzido como instituição financeira para a reconstrução. O nome fala por si só: criado em 1948, como parte do Plano Marshall, o primeiro mandato da KfW foi a reconstrução da infraestrutura e das indústrias de base do país fisicamente destruído pela guerra — e entre sua criação e 1953, mais de 50% dos créditos foram para produtores de energia e os setores de mineração e siderurgia. Uma vez cumprida a missão, a instituição passou a financiar pequenas e médias empresas, especialmente nas regiões mais economicamente atrasadas do país.

Nos anos 60, foi peça fundamental na promoção da internacionalização de suas empresas, e na década seguinte voltou a promover o desenvolvimento produtivo doméstico — especialmente de pequenas e médias empresas (PMEs). O grupo, que tem como principais acionistas a República Federativa (80%) e o Estado (20%), só cresceu ao longo destes quase 70 anos. Ele se define em seu website como “banco promocional da República Federativa da Alemanha” e possui um patrimônio de quase € 500 bilhões e financiamentos superiores a 72 bilhões. São quase cinco mil funcionários, espalhados em 80 escritórios no mundo inteiro, e um rating internacional altíssimo (AAA/Aaaa/AAA). Hoje em dia, continua a apoiar fortemente as PMEs, as exportações e os investimentos externos alemães; porém recebeu um mandato adicional, crucial para o país: apoiar a reestruturação do gigante industrial em economia verde — seja pela mudança da matriz de produção e distribuição de energia, seja pelo aumento do consumo energético eficiente.

No que tange à forma de financiar suas operações, sua história recente tem sido marcada pela busca da compatibilização de duas importantes metas: minimizar a utilização de recursos públicos; e preservar a sua histórica relevância para o desenvolvimento socioeconomico nacional. A solução encontrada foi o desenvolvimento paulatino, mas consistente, de um modelo de negócios que a torna pouco dependente do Tesouro: hoje, 90% dos recursos intermediados por aquela instituição são captados no mercado (nacional e internacional), inclusive através de emissão de cerca de € 70 bilhões em bônus próprios. Além disso, parte significativa do apoio da KfW a empresas vem na forma de garantias e apoio na colocação de títulos corporativos (<CF202>underwriting</CF>). Frente ao elevado risco das operações que normalmente financia, o acesso a mercados, mas especialmente a investidores institucionais, foi enormemente facilitado pelas garantias oferecidas pelo Tesouro alemão.

Porque uma experiência como a do KfW é (ou pelo menos deveria ser) importante para o Brasil? Por um lado, porque que ela nos lembra da relevância desse tipo de instituição dentro de qualquer projeto nacional, independentemente do estágio de desenvolvimento nacional. Por outro, porque ela indica a importância em desenvolver mecanismos de captação de recursos privados para reduzir a dependência da atuação de instituições como a KfW a recursos públicos. Ou seja, a experiência da KfW indica que, frente às restrições que se colocam ao financiamento das operações do BNDES, a solução não pode passar pelo seu definhamento — que pode afetar significativamente a capacidade do pais de investir, crescer e se desenvolver —, mas sim pela mudança do seu modelo de negócios e de sua forma de captar recursos.

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