Por diana.dantas

Acaba de ser publicado um importante relatório sobre a Petrobras. De autoria de Paulo Cesar Ribeiro Lima, o documento indica que a recapitalização da Petrobras pode ser, além de um grande negócio, de absoluto interesse do Brasil. Intitulado “A situação econômica, financeira e operacional da Petrobras”, o documento mostra porque a estatal é considerada uma das empresas mais sólidas e bem gerenciadas do mundo. Cito somente dois dados impressionantes: a empresa teve um faturamento anual de mais de R$ 300 bilhões e um lucro médio anual de $27,8 bilhões entre 2006 e 2013. Mesmo considerando a impressionante queda do preço internacional, o atual custo de extração por parte da Petrobras é de um terço ainda do seu preço de venda no mercado mundial. E, apesar do aumento recente do endividamento, o autor apresenta uma série de indicadores que comprovam a sustentabilidade financeira da empresa.

Se operacional e financeiramente a empresa está bem, as suas perspectivas parecem muito boas. Por exemplo, a recente descoberta do pré-sal triplicou as reservas sobre controle da empresa, e aponta para a possibilidade de duplicação da produção mensal de óleo entre 2014 e 2020 — de 2,1 milhões para 4,2 milhões de barris por mês. Com isto, a ampliação dos investimentos tornou-se uma oportunidade inadiável, e hoje a Petrobras é a empresa de energia que mais investe no mundo: tendo ampliado suas aplicações em sete vezes desde 2002, a empresa, no seu Plano de Negócios e Gestão (PGN 2014-18), se propõe a investir US$ 220,6 bilhões no período. Só na área de exploração e produção são cerca de US$ 153,9 bilhões.

Com estes planos de investimentos, a Petrobras representa hoje, sozinha, mais de 10% da formação bruta de capital no Brasil. O efeito multiplicador de tais investimentos (sobre a produção e emprego) é absolutamente estarrecedor: de acordo com o relatório, a execução dos projetos do PNG 2014-18 demandaria US$ 44,8 bilhões de empresas parceiras da Petrobras nas atividades de exploração e produção no Brasil; na de Abastecimento, US$ 38,7 bilhões em investimento; na de Gás e Energia, US$ 10,1 bilhões; na área de biocombustíveis, US$ 2,3 bilhões distribuídos entre projetos de etanol e biodiesel; na de Distribuição, seriam investidos US$ 2,7 bilhões. Some-se a isto a política de ampliação do conteúdo nacional embutida no sistema de licitação da empresa — semelhante, por sinal, à que encontramos nos Estados Unidos para o setor de energia — e podemos imaginar o efeito de demanda e promoção de avanço tecnológico que se gerará na cadeia produtiva do setor.

Apesar da aparente solidez financeira e operacional da Petrobras, a Moody’s rebaixou a classificação de risco da empresa de grau de investimento (Baa3) para grau especulativo (Ba2) em fins de fevereiro. Na época, alegou os riscos que as investigações em curso e a não publicação do balanço auditado poderiam causar no acesso e sustentabilidade da empresa. Paulo Cesar Ribeiro Lima, no documento já mencionado, apresenta uma análise financeira detalhada, que põe por terra a tese da possível deterioração financeira da Petrobras. Ele prefere ver na decisão da Moody’s um erro de avaliação — hipótese que não é difícil de aceitar, tendo em vista o desempenho recente dessas agências de classificação.

O risco de um erro de avaliação da agência é o início de uma “profecia autorrealizável”: o rebaixamento gera restrições financeiras e dificulta os investimentos, provocando, por fim, cortes prejudiciais às operações da empresa. Foi para evitar esse tipo de processo que, aqui nos Estados Unidos, o governo americano realizou uma enorme capitalização (a nacionalização de fato) das empresas automobilísticas — através do programa do governo federal de resgate de ativos financeiros (cuja sigla em inglês é Tarp). Hoje, o Tarp é considerado um total sucesso, tendo possibilitado a recuperação da indústria. E o Tesouro daqui já recuperou quase todo o investimento realizado, e evitou enormes prejuízos na forma de perda de base tributaria e gastos com seguro-desemprego que inevitavelmente teria.

No caso da Petrobras, creio que uma ação imediata pode — e deve — estancar um processo desnecessário, que termine gerando danos irreparáveis à empresa e à nossa economia. Ou seja, mesmo num momento de ajustes, creio que haja razões suficientes para a imediata recapitalização da Petrobras.

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