Por monica.lima

Ao que tudo indica, a aceleração da inflação de alimentos nos primeiros meses do ano restringiu o crescimento real do principal ramo do comércio varejista, qual seja, Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e bebidas. Tem sido assim. Desde que um número muito elevado de consumidores com rendimento relativamente baixo foi adicionado ao mercado de consumo, graças à redistribuição da renda promovida pela política social, aumentou a sensibilidade das vendas varejistas de itens básicos de consumo às majorações de preços, especialmente à inflação de alimentos. No primeiro trimestre de 2014, repetindo o que ocorrera em 2011 e 2013, o menor dinamismo das vendas desses bens puxou para baixo o crescimento como um todo do varejo. Nos três primeiros meses deste ano, sua evolução foi de 2,6% com relação a igual período do ano anterior, com impacto relevante para o varejo, que cresceu 4,5%.

Este índice não é em si negativo na medida em que poucas economias podem ostentar na atualidade um vigor de vendas equivalente a esse, e pode melhorar ao longo do ano se a inflação ceder e a confiança do consumidor não se deteriorar. Duas observações se fazem necessárias acerca dessa perspectiva, que pode ser considerada favorável do varejo para o ano. Primeira: ela encontra apoio no avanço da massa de rendimento da população, que ainda é expressivo em função não tanto da maior ocupação (esta, ao contrário, já mostra queda, acompanhando a fraca atividade econômica), mas sim do vigoroso crescimento do rendimento médio da população, que decorre do nível de emprego muito alto (o “pleno emprego”). Em segundo lugar, ela é reveladora de que o consumo na economia brasileira, embora tenha perdido ímpeto, ainda se mantém como uma das raras fontes para o crescimento econômico. O ponto a assinalar, todavia, é que o trimestre inicial de 2014 só perde para o período correspondente de 2013 (além do mesmo período de 2009, o ano da crise), como o pior primeiro trimestre dos últimos onze anos.

Se há possibilidade de melhora em alimentos e bebidas, em outro grande setor varejista – Veículos, motos, partes e peças – o panorama deste início de ano não é bom e não acena, pelo menos por enquanto, com mudanças. As vendas caíram 3,8% no primeiro trimestre. Uma conjugação de fatores afeta o mercado de veículos. Os incentivos de redução de impostos que desde 2009 vêm sendo utilizados para socorrer o setor, levaram à antecipação de compras, o que contribui para deprimir o consumo presente. Por outro lado, o endividamento familiar nessa área ainda assusta as instituições financiadoras, cujas taxas de juros vêm aumentando, acompanhando o endurecimento da política monetária. Em outras palavras, o ritmo do crédito é lento. A isto se deve associar um relativo pessimismo do consumidor para formar o quadro adverso das vendas domésticas.

Outros ramos acusam variações baixas ou negativas, indicando potencial esgotamento de ciclos de expansão anteriores. É o caso de Tecidos, vestuário e calçados (0,5%), mas também de Livros, jornais, revistas e papelaria (–3,5%) e Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (–0,7%). Sustenta o crescimento global um conjunto de setores que mantém expansão entre 6% e 13%. Entre eles, Combustíveis e lubrificantes e Móveis e eletrodomésticos, dois ramos que, cada um a sua maneira, ainda contam com incentivos do governo (baixo preço de combustíveis e financiamento da compra de bens para equipar as moradias do Minha Casa, Minha Vida) ou têm influência em suas vendas da Copa do Mundo (televisores). Mostrando que, em certos casos, o ciclo de consumo popular ainda se encontra em processo, o crescimento é ainda intenso em Material de construção e nos segmentos que vêm liderando o varejo nos últimos anos: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos e Outros artigos de uso pessoal e doméstico, onde se destacam lojas de departamentos.


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