Por bruno.dutra

Esse novo horizonte que se abre pode não ser nada favorável para este que fora a joia da coroa do último ciclo da economia brasileira, qual seja, o emprego. Não se trata apenas de repisar o tema já suficientemente abordado da crise industrial que vem ditando demissões cada vez mais vultosas. Os últimos dados da Fiesp referentes a julho mostram um declínio do emprego na indústria paulista de 2,6% no acumulado deste ano, com tendência de aceleração, já que no mês em tela o declínio de novas contratações já sobe para 3,9%.

Os números do IBGE mostram que o problema está longe de ser atinente tão somente à manufatura. Também referente a julho deste ano para São Paulo, o Instituto apurou queda da população ocupada de 1,3%, índice esse que decorre de marcantes recuos no emprego industrial (-4,9%), na construção (-4,5%) e até mesmo em segmentos onde o setor público tem destaque, ou seja, educação, saúde e administração pública, com queda de 3,5%, neste caso em função do calendário eleitoral e de suas limitações de contratação.

Outro ponto relevante que pode também fazer parte do novo contexto do emprego: o trabalho com carteira assinada continua aumentando (+1,6%), mas o volume de novas contratações nesse caso, somando 83 mil pessoas, não mais consegue neutralizar as dispensas sem carteira assinada, que alcançaram 196 mil pessoas no mês passado. Esse resultado mostra que não apenas o emprego total já declina no centro econômico do país, mas ainda evidencia que pelo menos no início desta fase nova de desemprego quem é especialmente sacrificado é o emprego menos qualificado, de menor remuneração e menos protegido.

Como tem sido a tônica do mercado de trabalho no Brasil, nem mesmo resultados adversos no volume de ocupação são traduzidos em aumento da taxa de desemprego. Isto não ocorre porque o mercado de trabalho “vai bem” ou não tem problemas, mas, sim, porque em paralelo desenvolve-se um processo que cada vez mais se configura como consistente de retirada de pessoas do mercado, certamente para usufruto de maior qualificação ou conclusão de estudos no ensino médio e superior.

Assim, enquanto o número de pessoas ocupadas, como já foi salientado, caía 1,3%, a oferta de trabalhadores retrocedia 2,2%. Daí a continuidade de resultados cada vez melhores na taxa de desocupação, que atingiu 4,9% em julho (5,8% em julho de 2013) e no acumulado do ano chega a 5,2%, contra 6,4% entre janeiro e julho do ano passado. Em algum momento do futuro próximo, mantendo-se a tendência de enfraquecimento progressivo da geração de empregos, a taxa de desocupação aumentará.

Nem só resultados negativos vieram à tona com a última divulgação da pesquisa de emprego. O rendimento médio real das pessoas ocupadas continua crescendo, embora, é claro, em nível muito inferior do que já fora no passado, mas ainda assim positivo (1,6%). O índice resulta de uma combinação peculiar: houve queda entre os empregados formalizados e aumento entre os trabalhadores sem carteira, sugerindo que a base das demissões nesse último caso ocorreu entre os ocupados de menor qualificação, talvez indicando relutância entre os empregadores em abrir mão de funcionários de maior qualificação. De novo, a indústria jogou para baixo o rendimento médio real, com queda de 3,5%.

A combinação das trajetórias do emprego e do rendimento real médio é muito importante porque disso resulta a trajetória da massa de rendimentos. Do ponto de vista pessoal é o rendimento médio real que importa no que diz respeito à satisfação do indivíduo e de sua família. Do ponto de vista da atividade econômica — e muito especialmente do comércio varejista — o que é decisivo é a massa real de rendimentos, ou seja, o que resulta entre crescimento da ocupação e do aumento da renda média. No mês de julho a massa de rendimentos teve variação positiva, porém muito próxima a zero (0,2%). É uma notícia ruim para o varejo. Uma taxa como essa não autoriza senão uma perspectiva muito baixa para o crescimento das vendas no segundo semestre deste ano, que talvez não supere, mantida a tendência de julho, 1%.

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