Por bruno.dutra

O economista John Maynard Keynes diria que este é um contexto em que a incerteza radical que acompanha as economias capitalistas aparece em todas as suas dimensões. Não saber sobre o futuro é a regra dessas economias, mas não ter referências para guiar as decisões fundamentais é algo que não é frequente. Quando ocorre, determina uma paralisia generalizada cuja consequência é a recessão, podendo chegar ao nível mais grave de depressão.

Não há porque diagnosticar por enquanto a situação brasileira como próxima ao limite da depressão, mas não parece haver dúvidas de que o caminho é para a recessão. A dúvida reside na dimensão do processo recessivo, daí a incerteza que está dominando as decisões dos empresários de produzir e investir, as decisões das famílias de consumir e as decisões dos bancos de emprestar. Neste último caso, como não se sabe a intensidade da retração, é desconhecida também a magnitude da queda dos lucros das empresas e, portanto, de sua capacidade de honrar dívidas, razão suficiente para muita cautela em novas concessões de crédito. Idem no que diz respeito às famílias: como ninguém é capaz de dizer ao certo a gravidade do desemprego e do decorrente aumento da inadimplência no crédito pessoal, este fica bloqueado.

A retração do crédito é uma das primeiras e uma das mais letais consequências da falta de parâmetros para as decisões econômicas e isto está se apresentando na economia brasileira hoje de forma mais grave, porque há toda uma cadeia de produção — associada à Petrobras e às investigações da Operação Lava Jato — onde o crédito de fato foi estacando. O mesmo ocorre com os créditos mais longos para as famílias, particularmente o crédito para automóveis.

No raio de manobra que lhe é dado arbitrar suas decisões, as famílias com acesso ao crédito relutam em assumir compromissos futuros nesse momento em função do medo — cada vez maior, segundo pesquisa da CNI — de perda de emprego. Por esta razão, seu consumo corrente de bens duráveis vem caindo de forma extraordinária, haja vista a redução das vendas no mercado interno no primeiro trimestre para veículos, que atingiu a casa de dois dígitos. O consumo familiar deverá cair ainda mais pelo efeito do desemprego em alta sobre a renda corrente familiar.

Não é de hoje que a confiança empresarial na economia vem caindo assustadoramente, mas no início de 2015 ganhou novo ímpeto. Significa isto dizer que as condições gerais antecipadas por empresários dos mais variados portes e setores sobre os seus negócios desfavorecem muito a realização de novos investimentos. Mas não é só. A própria fragilidade da economia reduz vendas, o que, dados os custos crescentes em razão do ajuste dos preços relativos, deprimem margens, diminuindo a capacidade de financiamento empresarial. As empresas também não contam como antes com os recursos do BNDES, dado o ajuste fiscal, e nem podem demandar fundos dos bancos, que estão restringindo o crédito.

Estes não são os únicos determinantes do colapso do investimento que está em curso. As inversões muito menores na cadeia de petróleo e na construção — tanto a “leve”, quanto a “pesada” — e a queda, que parece ser dramática no investimento público, determinada pelo ajuste fiscal, são também parte do problema que dificilmente será minimizado neste ano com os programas de concessão de infraestrutura. Em um ambiente deteriorado pela crise da Petrobrás e das empresas de construção e onde um forte ajuste fiscal pretendido causa incertezas nos investidores, o apetite nas concessões deverá ser pequeno.

Já presenciamos em outras épocas a uma maior capacidade de resposta das exportações ao câmbio do que agora, mas a ausência de saída para que a economia minimamente vislumbre alternativas de crescimento e de geração de investimento e emprego sugere que devamos insistir nas exportações. Voltar com o Reintegra aos seus níveis anteriores à recente mudança e anunciar compromisso de que nada será alterado daqui para a frente seria um começo.

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