Por monica.lima

Os resultados divulgados essta semana pelo IBGE para as vendas do comércio varejista e a receita de serviços são preocupantes. Isto porque o quadro delineado por essas pesquisas é ruim para ambos os setores, mas, pior ainda, é que elas mostram que está ocorrendo uma deterioração gradativa. Maus resultados e perspectiva de piora em dois segmentos muito empregadores de mão de obra sinalizam para o aprofundamento da queda do emprego, redução do rendimento e da capacidade de compra da população, menor consumo das famílias, contração ainda maior do PIB, menores receitas tributárias etc., aprofundando o círculo vicioso em que se meteu a economia brasileira.

Indicador de que prevalece uma tendência de piora é dado pela comparação entre a evolução acumulada no ano até maio das vendas reais e os últimos dados disponíveis, referentes a este mês. No acumulado do ano com relação ao mesmo período de 2014, as vendas do varejo pela primeira vez desde que o IBGE iniciou o levantamento no setor em 2002 passaram a registrar retração, de 2% no varejo restrito e 7% no varejo ampliado, este incluindo além dos setores tradicionais, como alimentos, vestuário e eletrodomésticos, os setores de veículos e de materiais de construção. Ocorre que em maio as retrações foram muito maiores, como de 4,5% e 10,4% em cada um desses conceitos. Por outro lado, nos dois conceitos a comparação das vendas de maio com o mês anterior após os ajustes sazonais também mostra declínio. Portanto, a retração das vendas está se agravando.

Dois ramos varejistas chamam a atenção nesse percurso. Veículos, motos, partes e peças já vinha acusando declínio muito elevado, 17% no acumulado do ano, mas em maio o percentual foi ainda maior, superando 20%. No caso de Móveis e eletrodomésticos, que já vinha de um revés muito forte, superior a 10%, o índice de maio caiu 13,7%.

Em menor medida, a dinâmica acima delineada tem sido observada em todos os segmentos do varejo, cabendo observar que mesmo naqueles em que as taxas de acréscimo de vendas reais são ainda positivas — Artigos farmacêuticos, Equipamentos para escritório, informática e comunicações e Outros artigos de uso pessoal e doméstico — os últimos resultados encontram-se já próximos a zero.

Os dados do IBGE para a pesquisa de serviços não trazem os resultados em termos reais, mas apenas em termos nominais. Como a inflação tem sido muito elevada — medida pelo IPCA no período janeiro-maio deste ano em comparação ao período janeiro-maio do ano passado foi de 7,5% — deve ser considerado que os valores apurados para 2015 na verdade refletem quedas reais muito pronunciadas nas receitas de serviços.

No acumulado de janeiro-maio, em termos nominais a receita de serviços cresceu somente 2,3% e verifica-se a mesma configuração vista para o comércio varejista. O índice parcial para o ano é ruim, mas ainda pior é o percurso que se delineia pelos resultados dos últimos meses. Assim, em abril o aumento foi de apenas 1,7%, ao passo que em maio foi menor ainda: 1,1%.

É muito provável que nenhum dos ramos de serviços atualmente esteja obtendo uma taxa positiva real de crescimento de vendas, algo que até o final de 2014 não ocorria. Seguramente a involução real já é característica nos casos a seguir. Em Serviços prestados às famílias, onde a taxa nominal referente a maio foi negativa em 1,4%, puxa para baixo o resultado do segmento de Alojamento e alimentação, onde se destaca Alimentação fora do domicílio. Serviços de informação e comunicação (-0,8%) tem no segmento de Serviços de edição e agências de notícias o maior impulsionador da queda.

Outros dois segmentos ainda têm variação positiva de faturamento, mas claramente declínios em termos reais, Outros serviços (0,3%) e Transportes e serviços auxiliares (0,8%). Concorre negativamente para o resultado desse último ramo Transporte terrestre, mas Transporte aéreo e Armazenagem e correio também apresentam baixos resultados.

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