Placa continha dizeres: "propriedade privada"Divulgação

Proprietários de terrenos em uma rua do bairro do Peró, em Cabo Frio, denunciaram nesta terça-feira (17), uma suposta quadrilha especializada em invasão de lotes privados. De acordo com relatos, os donos das áreas levaram um susto ao chegarem em suas propriedade e se depararem com uma cerca e placa de “propriedade privada”.

O mesmo aconteceu com outros terrenos que ficam ao lado, na mesma rua, num total de cinco lotes. Cada área mede cerca de 700m2 e estão avaliadas em mais de R$200 mil. Todos ficam na parte considerada mais nobre do bairro, que tem a única praia com Bandeira Azul na cidade (certificação internacional de qualidade total das praias).
Na placa havia a indicação de um suposto administrador e uma empresa. Ao procurarem contato com os mesmos, eles disseram que foram tratados com desconfiança e acharam estranho a demora dos possíveis golpistas para retornar os contatos. Ao perceberem a tentativa de golpe, os donos acionaram os órgãos de fiscalização da prefeitura e foi então confirmado um possível esquema que vem se repetindo em várias partes do município.

Segundo denunciantes, a movimentação é bastante rápida. Em poucos dias eles cercam a área e no dia seguinte instalam as placas. Tudo isso, aconteceu em cerca de três semanas, de maneira dissimulada para não chamar atenção dos vizinhos. Mas testemunhas relataram que no grupo que atuou no cercamento da área, tinha homens com tornozeleira eletrônica.

O QUE DIZ A VIZINHANÇA

Um engano para os golpistas é achar que ninguém está percebendo. Mas os vizinhos viram tudo. Os moradores afirmaram que, desde dezembro, um grupo de quatro a seis homens – sendo que dois estavam utilizando tornozeleira eletrônica – foi cercando os terrenos aos poucos, tentando não chamar a atenção. Primeiro eles furaram o solo. Dias depois instalaram os mourões, depois colocaram os arames. E no fim da tarde de desta terça, instalaram a placa anunciado propriedade privada e suposto administrador.

Os relatos das testemunhas da localidade é que os homens que estavam trabalhando no cercamento não tinha uniformes e que o carro que os levava e buscava era sem identificação de empresa, empreiteira ou imobiliária. Isso chamou a atenção.

Um dos vizinhos disse ainda que percebeu que dois “operários” usavam tornozeleira e um deles, chegou a dizer que estava trabalhando para secretaria municipal de Meio Ambiente para reduzir a pena, o que foi enfaticamente desmentido pela secretária adjunta de Meio Ambiente, Marcella Sant’ Anna: “Não temos nenhum apenado com tornozeleira que preste serviços para nosso setor e a prefeitura não cerca área privadas, somente as públicas, o que não foi o caso”, disse Marcella.

ATUAÇÃO DA PREFEITURA

Os órgãos competentes foram acionados e notificados, tais como: Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Planejamento, Secretaria de Obras e Meio Ambiente. A fiscalização esteve presente e constatou a possível tentativa de invasão. Marcella alertou, ainda, sobre a preferência desses grupos em “tomar” terrenos que não estejam murados ou cercado. O que acaba sendo um alvo favorito dos criminosos. Por isso, ela reafirma a importância de cercar as áreas e denunciar.
CONTATO COM O SUPOSTO DONO

Os reais donos chegaram a fazer contato com o telefone e o suposto “administrador” que constava na placa instalada de forma a “dar um verniz de legalidade” na ação. Havia um QR-Code com nome e telefone do “responsável”. Ao ser questionado pelos verdadeiros proprietários, eles ratificaram que eram donos, mas não apresentaram documentos que comprovasse. Elas enviaram mensagens para três telefones diferentes (um foi empurrando para outro) até serem atendidas por um sujeito chamado Leomar Barbosa Guedes. Ele declarou ser responsável pelos lotes, mas não comprovou.

Entretanto, após investigação da reportagem do O Dia, foram identificados pelo menos 33 processos contra o mesmo, sendo a maioria relacionado a invasão e reintegração de posse em áreas pertencentes a outrem. Questionado, Leomar se defendeu dizendo que trabalhava para o suposto proprietário, de nome Ricardo VON Markendorf Coutinho, contra quem, também pesa inúmeros processos envolvendo invasão de terras e reintegração de posses.
 
MEDIDAS TOMADAS

Por ora, com apoio da prefeitura, o grupo de proprietários retirou as placas colocadas indevidamente no local e pretende resolver a situação judicialmente.

“A gente já registrou a situação às Secretarias Municipais de Segurança Pública, Meio Ambiente e Planejamento. Também fizemos denúncia na Delegacia de Polícia e vamos também ao Ministério Público para alertar a população sobre essa possível quadrilha que está invadindo terrenos aqui, em Cabo Frio, e, possivelmente, na Região dos Lagos”, disse uma das denunciantes.

Até o fechamento dessa reportagem, os “invasores” não apresentaram nenhuma escritura ou documento que comprove terem comprado ou adquirido qualquer um dos cinco lotes em questão que foram cercados.