Em São Fidelis, o Paraíba também apresenta água esverdeada, igual acontece em Campos Foto Reprodução

Campos/São Fidelis – O município de São Fidelis é mais um município da região norte do Estado do Rio de Janeiro a estar consumindo água com odor e gosto semelhantes a “pó de broca” (produto usado para acabar com besouros nocivos às lavouras). Análises apontam que não faz mal à saúde; mas, assim como em Campos dos Goytacazes, não são poucos os que desconfiam.
O desencontro de informações quanto causas e efeitos é forte nos dois municípios. Em São Fidelis, o peso da responsabilidade é descarregado na Rio + Saneamento; em Campos, na Águas do Paraíba. As concessionárias são responsáveis, respectivamente, pelo tratamento e distribuição do produto potável nos dois municípios.
Ambas garantem que, apesar dos inconvenientes, a água não produz nenhum mal a quem a consome; porém, as dúvidas sobrepõem à confiança. No entanto, o representante da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) no Comitê Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, professor e pesquisador João Gomes Siqueira, confirma: “Apesar do gosto e odor estranhos, a água não causa nenhuma doença”.
A qualidade comprometida começou a ser observada há cerca de duas semanas nos dois municípios, cujos governos, de imediato, cobraram explicações das respectivas concessionárias. O mesmo fez o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que, inclusive, visitou a Estação de Tratamento de Água (ETA), em Campos, para tomar conhecimento de como acontece o processamento.
Tanto Rio + Saneamento quanto Águas do Paraíba divulgaram a identificação do aumento na quantidade de algas na água bruta da corrente e redução da vazão do rio Paraíba do Sul, além do alto índice de insolação dos últimos dias como possíveis causas de mudanças nas características normais da água. O Instituto Estadual de Ambiente (Inea) não divulgou diferente.
O órgão pontuou que vem realizando análise da qualidade da água nos rios Pomba e Paraíba do Sul, tendo constatado a presença de cianobactérias; porém, ressalvou que não foram observadas cianotoxinas, que fazem mal à saúde. Com isso, validou as análises das concessionárias. No entanto, a desconfiança quanto aos riscos de efeitos prejudiciais à saúde permanece.
Na avaliação de João Siqueira, as dúvidas são causadas pela desinformação. Ele resume, também, soluções (a curto, médio e longo prazo) para se evitar o fenômeno e relata que todo ano, nesse período, a vazão do Rio Pomba, em Minas Gerais, diminui e a qualidade da água piora, refletindo diretamente no Paraíba, do qual é afluente.
ALTERNATIVAS - “Vem de São Paulo a vazão que manteria o Paraíba; no entanto, dois terços estão sendo transpostos para a cidade Rio de Janeiro, sobrando para nós um terço, quantidade insuficiente, ou sejam, 70 metros cúbicos”, explica o pesquisador apontando que o ideal seriam 250 metros cúbicos. Aumentar essa demanda seria uma das saídas para evitar o que ocorre no momento, afirma João Siqueira.
Também vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, o pesquisador da Uenf destaca que a partir de São Paulo, onde nasce, o Paraíba recebe, diariamente, esgoto de 184 cidades: “Com o nível baixo, o rio não consegue diluir; o tratamento desse esgoto seria outra alternativa fundamental”.
“Com baixa vazão, a concentração do esgoto é maior, favorecendo à proliferação de algas, que geram essa cor esverdeada na água do Paraíba, realça o professor ratificando que o cheiro ruim notado na água tem também influência das algas: “Algumas são tóxicas; outras não; é o caso da geosmina; ela provoca gosto e odor estranhos, porém, sem causar doenças”, reafirma.
João Siqueira indica ainda reflorestamento e cuidado com o solo como importantes para contribuir contra o fenômeno que acontece, e detalha que há cianobactérias que se alimentam dessas algas e produzem toxinas que fazem mal à saúde: “Não foram identificadas na água do Paraíba”.
Sobre todas as alternativas visando a evitar a repetição do quadro negativo do momento, o pesquisador defende a participação efetiva do poder público junto às concessionárias: “O governo federal tem programas que contribuem para tanto”, diz sugerindo a necessidade de uma campanha ampla e efetiva contra a poluição do rio.