Na fazenda Santa Cruz, visitantes participaram de visita técnica com simulação de colheita Foto Divulgação

Campos – A cana-de-açúcar já garantiu ao interior do estado do Rio de Janeiro a maior posição do país em produção, com Campos dos Goytacazes, na região norte, primeiro no ranking. Em 1936, durante visita ao município, o então presidente da República, Getúlio Vargas, o destacou como “espelho do Brasil”, legenda mantida até hoje, embora sem exclusividade. O produto ainda é forte no solo campista; porém, surge um forte concorrente: a soja, cuja última safra, iniciada em setembro de 2024, rendeu cerca de três mil toneladas.
De acordo com estudos da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Ufrrj), a cultura da soja é uma das alternativas para ocupar áreas que antes eram utilizadas pela cana-de-açúcar no norte/noroeste fluminenses, estando Campos disparando.
Em um dos levantamentos, a Embrapa cuida de adaptação da cultura da soja para grãos e alimentação humana nas condições edafoclimáticas regionais, projeto aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj). O objetivo macro de todos os projetos é a introdução dos cultivares de soja mais adaptadas ao clima e ao solo locais, com bases tecnificadas. E o governo de Campos, por meio da Secretaria de Agricultura, tem tratado da pauta com prioridade. A expectativa é que o município caminha para ser grande produtor nos próximos três/quatro anos, em nível nacional.
Uma das terras produtivas apontadas como importantes está situada na localidade de Santa Cruz, onde, em 2023, por conta do “Dia de Campo: Pesquisa e Desenvolvimento da Soja no Norte Fluminense” (realizado pela Pesagro-Rio, Embrapa, Ufrrj e governo do estado), o secretário de Agricultura campista, Amy Júnior, participou de visita técnica a áreas experimentais, com a simulação de uma colheita. Também foi visitada uma unidade de beneficiamento de soja.
Já naquela época, Júnior avaliava com otimismo: “A viabilidade econômica da soja em Campos é uma realidade; mas, temos potencial para diversas culturas. É possível e viável produzir no município quase todas as atividades agrícolas. Com o nível de tecnologia e de ciência agrícola que temos, podemos ter diversas culturas”.
Com a soja, o secretário acredita que será possível demonstrar como produtores, se organizando e se apoiando na ciência e na tecnologia, conseguem obter excelente resultado em sua produção: “Campos tem uma história de produção de grãos e de diagnóstico para plantio de soja que remonta à década de 70. Essa potencialidade hoje já é realidade; ela vem de muito tempo”.
PESQUISAS - O secretário destaca o trabalho que as instituições de pesquisa, notadamente a Pesagro e a Embrapa, têm feito nos últimos cinco, seis anos: “Essas pesquisas proporcionaram a Campos ter a maior produção de soja do estado de Rio de Janeiro, caminhando fortemente para ser um grande produtor de grãos, especificamente de soja, nos próximos três, quatro anos”.
Entre as vantagens do cultivo da soja Júnior assinala a oportunidade de rotação de culturas com a cana de açúcar e o baixo custo do frete, pelo fato de o município estar próximo do Porto do Açu: “O grão também está diretamente conectado à pecuária, já que serve de alimento para o gado. A prefeitura vem envidando esforços, notadamente na melhoria da infraestrutura, para colaborar com agricultores que querem investir na atividade agrícola”, realça.
A observação do secretário é refletida na informação do gerente geral do Terminal Multicargas do Porto do Açu, em São João da Barra, de que Campos irá exportar, ainda em abril, através do complexo portuário, 1.800 toneladas de soja para a Rússia, de um volume de três mil movimentados pelo norte/noroeste do estado. Macaé participa com 1.100.
Em matéria recente divulgada por O Dia, o Embrapa aponta o norte fluminense com cerca de 300 mil hectares de terras agricultáveis de alta aptidão para a soja, sendo a única região do país com áreas produtivas localizadas a menos de 60 a 150 quilômetros de um porto de exportação. Somente em Campos, são 850 hectares dedicados ao grão.
VANTAGENS - Na opinião do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Campos, Ronaldo Bartolomeu, a soja é uma grande oportunidade para o agronegócio regional. Ele analisa que a proximidade com o Porto do Açu coloca o município em vantagem, relacionado aos grandes centros produtores. “Em termos de produtividade, não perdemos em nada para
outras regiões do país”, compara ressaltando que o setor tem investido em equipamentos de ponta, preparo de solo, planejamento, além de projeção de plantio e colheita, para otimizar custos.
A concentração da maior produção de soja em Campos está na localidade de Santa Cruz; aonde antes havia apenas cana-de-açúcar e criação de gado de corte. Há cerca de cinco anos a prioridade é o grão: “A criação de gado é mais segura; já a soja tem um risco maior, porque depende do clima, o preço varia bastante; mas, a rentabilidade é quase o dobro do boi”, compara o produtor rural José Geraldo Neto.
Há três anos Neto está na produção de soja, tendo iniciado com 120 hectares de plantio e hoje atingiu 225. Já na Fazenda Santa Cruz, o produto é cultivado em 475 hectares; a última safra rendeu 1.500 toneladas que foram exportadas, informa o gerente da propriedade, Manoel Peixoto.
“A transição da cultura na propriedade garante o aumento de emprego para os moradores da localidade”, pontua Peixoto, sem mencionar números. Ele enfatiza: “O cultivo da soja é diferente, porque passa por vários processos em relação à cana de açúcar. Atualmente temos cerca de 80 pessoas trabalhando no campo e beneficiamento do grão”.