Campos – “Depois da tempestade, a bonança”. A exemplo de Fênix, ave mitológica que renasceu das próprias cinzas, o Goytacaz está dando a volta por cima da crise que quase o deixou até sem o estádio, e tem chance de ser campeão da série B do Campeonato Carioca, domingo (8) e retornar, brevemente à elite do futebol do Estado do Rio de Janeiro. O jogo será contra o Macaé, em Campos dos Goytacazes.
Este é o sentimento da diretoria e dos torcedores do time de Campos, definido pelo vice-presidente Leandro Nunes, que resume como aconteceu a transição entre a crise e a volta por cima: “Nós, torcedores, nos reunimos em junho de 2024 e promovemos o ‘Movimento Popular Resistência Alvianil,’ em frente ao estádio, que naquele momento estava fechado”.
Nunes afirma que a retomada utilizou as prerrogativas de torcedores, com a justiça reconhecendo as razões: “Assumirmos o clube e de lá pra cá são desafios diários, mas vencidos na força de quem decidiu não desistir e assim, evitar a extinção de um dos clubes mais tradicionais do país, e, dono da quinta maior torcida do estado”.
Os recursos para bancar o plantel e despesas gerais é outro desafio; mas o amor ao “Azul” (assim chamado popularmente) prevalece e até os atletas (100% do próprio município) contribuem: “No primeiro momento o presidente, Sérgio Alves, teve a coragem de, quase que imediatamente, reabrir as escolinhas. Dali começaram a chegar os novos craques e também valores daqueles que pagam taxas”, pontua o vice.
“Torcida, Comerciantes, empresários e a sociedade civil organizada num todo aos pouco estão vendo que a gestão tem outra característica, que o momento ainda é de reestruturar e resgatar o clube”, resume o diretor ratificando: “ Estamos aos resgatando a credibilidade que estava esgarçada em todas as áreas – inclusive com a justiça e a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro)”.
A Nunes coube cuidar da estrutura do futebol profissional: “O presidente nos entregou essa missão e está aí o elenco vitorioso, formado por quem, como diz o nosso hino, é ‘Goytacaz até morrer’. Tanto que o salário é o mínimo; o ganho principal é vestir camisa alvi-anil e mostrar para todos que é possível vencer por amor ao clube e respeito à tradição”.
RESSOCIALIZAÇÃO - Para alçar o voo da retomada no futebol, dois ex-atletas estão empenhados: Ricardo Bóvio (também brilhou no Santos, Corinthians, Vasco da Gama, com atuações na Europa e Arábia) e Ralph Abu: “Ambos são os diretores de futebol, responsáveis pela montagem do time, quase todos no futebol amador da cidade”, relata o vice-presidente ressaltando entre os jogadores Yuri, que atua com tornozeleira eletrônica e tem sido assunto nacional. O treinador é Wellington Gomes.
“O Yuri (atacante) faz parte desse grupo de jogadores talentosos da cidade que o Bóvio trouxe, e a questão dele com a justiça foi vencida e cumprida”, assinala o diretor frisando: “Entendemos que não havia nenhum impeditivo para a atividade do atleta; além, evidentemente, de darmos a oportunidade de ressocialização”.
Yuri tem 30 anos de idade estava encarcerado na Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro, em Campos, após ter sido preso, em 2018; teve o direito à progressão de regime reconhecido este ano e cumpre o restante da pena usando a tornozeleira. A diretoria do clube ingressou com pedido na Vara de Execução Penal (VEP) solicitando a retirada do dispositivo e aguarda decisão.
CONSOLIDAÇÃO - O próprio Yuri reconhece a oportunidade; ele ficou sete anos preso, por ter se envolvido com o tráfico de drogas, e, segundo Nunes, mas ele trata do assunto entendendo que pagou e quer seguir a vida por outras rotas: “Na verdade, o elenco o vê como um vencedor, porque demonstra ao longo de todo esse tempo de trabalho no clube uma vontade severa de vencer dentro e fora de campo”.
Quanto à expectativa em relação ao campeonato, o diretor diz que a decisão do título, domingo, pode consolidar a retomada vitoriosa: “Depois de chegarmos ao primeiro objetivo, que era o acesso (os dois que chegam a final automaticamente estão garantidos na B1), estamos na luta pelo título e o jogo em casa, com a presença de nossa torcida, é um grande passo”.
Na primeira partida pela final, dia 30 de novembro, no estádio do Macaé (Cláudio Moacyr de Azevedo), houve empate em 1 a 1. O jogo decisivo, domingo, será no Ary de Oliveira e Souza (‘Arizão”), com início às 15h. Os ingressos começaram a ser vendidos nesta quarta-feira (4). “Estamos vencendo etapas e o título irá coroar essa trajetória de superação”, enfatiza Leandro Nunes.
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