Por douglas.nunes

Apesar de mostrar otimismo com o futuro das cidades brasileiras quanto à implantação de tecnologias inteligentes, Emilio Díaz, diretor-geral Américas e presidente da Indra no Brasil, cita os altos investimentos e a falta de integração dos diferentes níveis de governo com as empresas como os principais entraves da criação de smart cities no país. Ele explica ainda como as soluções da Indra podem ser usadas para melhorar a qualidade de vida do novo cidadão — mais tecnológico, participativo, e que gera e demanda uma grande quantidade de informações em tempo real.

O que é uma cidade inteligente?

Uma cidade inteligente é aquela em que a tecnologia melhora a qualidade dos serviços públicos e coloca o cidadão no centro da gestão da cidade. Há, portanto, a integração de questões como segurança, transporte, comunicação e até elementos como identificação inteligente de pessoas e a administração eletrônica, o chamado e-gov.

O sr. fala em colocar o cidadão no centro da gestão. Como é o cidadão de hoje?

Os cidadãos de hoje têm características diferentes dos mais velhos. São tecnológicos, gostam de estar sempre conectados. Além disso, são mais criativos, inovadores e empreendedores, gostam mais de participar da gestão das cidades e estão sempre gerando e demandando muito mais informações. Os meios tecnológicos são ferramentas essenciais para essa relação com esse novo cidadão. Dentro do uso da tecnologia, que continua evoluindo rapidamente, há o conceito de big data, que permite analisar e relacionar uma quantidade imensa de informações das mais variadas fontes.

E como o big data pode ser aplicado às cidades inteligentes?

A verdade é que a quantidade de informações que os cidadãos e os diferentes organismos das cidades geram é enorme. O big data é um conceito que permite manejar informações massivas, de diferentes fontes, estruturadas e não estruturadas. Coisa que há dez ou cinco anos não era possível. O big data permite analisar diversas fontes de informação, que ajudam na tomada de decisões em tempo real. 

Como são as soluções da Indra para ajudar no desenvolvimento das smart cities?

Nossa vocação, como companhia de tecnologia, é ser uma das poucas empresas globais com capacidade de oferecer uma oferta integrada para as smart cities. A parte fundamental de uma smart city é a plataforma urbana, base para a gestão e integração de todos os serviços e soluções inteligentes que formam o ecossistema de uma cidade. Nós temos essa tecnologia e já implementamos em alguns locais do mundo. Essa é uma plataforma aberta que pode conectar também outras aplicações nossas ou de concorrentes. Falando do nosso portfólio, temos soluções de gestão de tráfego urbano, para administração eletrônica, controle do consumo energético... Além de soluções para smart grids, gestão inteligente da distribuição de energia e tecnologias importantes no que diz respeito à participação do cidadão, que opina, por exemplo, sobre coisas, como o melhor lugar para colocar uma estação do metrô. Temos também tudo que tem a ver com identificação inteligente, pesquisa, segurança e centros de comando de controle.

Como o sr. avalia a implantação dessas soluções inteligentes no Brasil? Ainda corremos atrás de outros países?

O Brasil é o maior país da América Latina e um dos maiores do mundo, o que traz coisas boas, mas ruins também, como a exigência de maiores investimentos. A verdade é que o Brasil tem a oportunidade de, com o uso das tecnologias das smart cities, ajudar a melhorar a qualidade de vida do cidadão. Na minha opinião, está havendo um desenvolvimento similar ao de outros países da América Latina. O Brasil está mais ou menos no mesmo nível, com a diferença de que os investimentos para se fazer qualquer coisa em São Paulo, por exemplo, são muito maiores do que em outras cidades. Quando o Brasil conseguir fazer, será referência mundial. A diferença da América Latina para a Europa é que lá são tomadas decisões mais globais, e a América Latina opta por soluções mais focadas no curto prazo.

Além dos orçamentos altos, há outros entraves?

O principal problema são os orçamentos altos, que exigem investimentos elevados. Mas também há a dificuldade de integração dos diferentes níveis de governo envolvidos. A verdade é que uma cidade inteligente exige uma liderança única. Mas temos que lembrar que esse não é um problema só brasileiro, mas de qualquer cidade do mundo que queira ser uma smart city. O relacionamento com as empresas privadas também é importante, porque muita informação vem delas. Mas isso nem sempre é fácil, pois envolve questões como a proteção de dados, que é diferente em cada país. Aí há, inclusive, uma discussão interessante. Até que ponto estamos dispostos a expor nossas informações? A verdade é que esse compartilhamento é essencial para que uma cidade inteligente se desenvolva e dê certo.

Há cidades que saíram na frente no Brasil?

Nossa experiência mais importante é em Curitiba. Mas há outros exemplos como o Rio, em segurança. Curitiba é um exemplo mundial da integração de soluções de tráfego e energia, com algumas premiações internacionais de cidades inteligentes e sustentabilidade.

Alguma outra cidade do mundo pode ser usada como exemplo?

Além de San Cugat (Espanha), que integra um projeto da Indra, temos exemplos de concorrentes, como Buenos Aires e Cidade do México, no que diz respeito à segurança; e Santiago do Chile, com soluções de transporte e sustentabilidade, entre outros.

A Indra está otimista com o futuro do Brasil?

Estamos otimistas e achamos que os governos federal, estaduais e os municípios estão cientes das melhorias que a aplicação dessas tecnologias podem trazer para as cidades. Mas não é um processo rápido, por questões de orçamento e integração, como já falei. Teremos novidades em breve. As coisas vão andar mais devagar agora passada a Copa do Mundo e com as eleições em outubro. Mas achamos que, nos próximos dois ou três anos, veremos grandes avanços. O que tem a ver com as prefeituras, que não mudam agora, está caminhando bem.

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