Por douglas.nunes

Apesar dos grandes avanços no saneamento básico e no tratamento do esgoto, mais projetos são necessários para aumentar a sustentabilidade e a gestão das águas em todo o país. Pelos dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), entre 2010 e 2011 o Brasil manteve um crescimento tímido nos serviços de saneamento básico, colocando em xeque sua universalização para os próximos 20 anos, segundo a ONG Trata Brasil.

“O saneamento foi um setor que sofreu com o descaso público por décadas; prevaleceram as obras de abastecimento de água e o esgoto foi deixado de lado. O saneamento básico só ganhou uma Lei Federal em 2007, quando o setor recebu novas diretrizes, obrigando os municípios, por exemplo, a fazerem seus planos municipais de saneamento básico”, destaca Édison Carlos, presidente executivo da ONG Trata Brasil.

No caminho para que o Brasil possa ter mais cidade inteligentes há problemas de gestão, afirma Carlos. “Seria contradição ter cidades inteligentes onde seus cidadãos pisem em esgotos na rua. As mudanças, portanto, têm que ocorrer na gestão pública, ou seja, os prefeitos dos municípios precisam estar cientes de que é mais importante e urgente ter saneamento e depois buscar outras infraestruturas”, explica.

Estudo preparado pela Trata Brasil aponta que houve desenvolvimentos importantes. As maiores cidades avançaram nos serviços do saneamento básico, principalmente quanto ao atendimento em água tratada. Nesse quesito, as 100 maiores cidades tiveram crescimento de 0,9 ponto percentual — atingindo 92,2% da população — número bem superior ao atendimento na média do país (82,4%).

Para o professor Adacto Ottoni, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o Brasil precisa concentrar esforços em projetos de longo prazo, se quiser entrar definitivamente no caminho das cidades mais sustentáveis. “É importante ter em mente um tripé basilar: a inteligência, a sustentabilidade a desejabilidade. Temos que investir em políticas viáveis ecômica e ambientalmente, além de serem socialmente desejáveis”, diz o professor, para quem as cidades sustentáveis e inteligentes não têm que trabalhar na remediação, mas na proteção de seus recursos, para evitar gastos com a recuperação.

Segundo a Trata Brasil, a expansão do acesso ao saneamento básico no país traria benefícios diretos para a economia. O estudo da ONG mostra que diversos setores ganhariam com a universalização, entre eles o imobiliário, o educacional e o de turismo. “Uma vez que ocorra a expansão dos serviços que necessitam de mão de obra, direta ou indiretamente, isso gera aumento de empregadores, devido ao crescimento da infraestrutura. Quando se atingir a universalização, com 100% de acesso ao saneamento, iremos privilegiar o setor do turismo, onde 500 mil novos postos de trabalho poderiam ser gerados”, estima Édison Carlos.

Ainda de acordo com o estudo, a renda gerada com essas atividades alcançaria cerca de R$ 7,2 bilhões por ano em salários e um crescimento do PIB de mais de R$ 12 bilhões para o país. Em São Paulo, por exemplo, a universalização poderia gerar R$ 13 bilhões na economia, com a implementação de 100% dos serviços de esgotos e tratamento de água em todos os município. A renda por trabalhador poderia crescer até 2,7%, aponta a ONG.

Esgoto e Energia

Para cidades que querem ser mais inteligentes, o lixo pode ser o grande impulsionador, afirmam especialistas. Dos dejetos que se acumulam nos esgotos é possível extrair gás, biodiesel e até energia elétrica. De olho nesse mercado em expansão, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) aposta no esgoto e em seus resíduos para desenvolver tecnologias em combustíveis como o biogás e o adubo orgânico.
Nos laboratórios da Cedae, tudo é tratado e reaproveitado. Da espuma do esgoto, por exemplo, é extraída a gordura que, submetida a tratamento, vira biodiesel. Até a água que sobra desses processos vai integrar o programa de reúso, para fins industriais. Em parceria com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), a Cedae fornece essa água para a limpeza das ruas do Rio.

“Tecnologias como essas são fundamentais para a cidade. No caso dos combustíveis desenvolvidos a partir do esgoto, eles não competem com a agricultura alimentar e são economicamente e ambientalmente mais viáveis. O foco está em criar soluções mais sustentáveis e na capacitação tecnológica da cidade, para melhorar a prestação de serviço”, diz o presidente da Cedae, Wagner Victer.

"O Brasil já dispõe de padrão internacional quanto ao tratamento de água e distribuição. Entretanto, acredito que o foco para o desenvolvimento das nossas cidades inteligentes precisa estar na aproximação do sistema de saneamento ao setor energético, pois eles podem trazer benefícios e novas tecnologias”, avalia o especialista em Aproveitamento Energético de Resíduos da Coordenação dos Programas de Pós Graduação (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciano Basto.

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