Átila Nunes: Os que cercam os deficientes
Quem já não se fez a pergunta do por que algumas crianças nascerem com algum tipo de deficiência física ou intelectual? Tem alguma explicação lógica, mesmo sob o ponto de vista espírita? Como pode Deus permitir que uns venham ao mundo perfeitos, podendo aproveitar uma vida plena, enquanto outros vêm com graves problemas de locomoção, visão, audição, locução ou mentais? Como é que podem nascer desiguais? Onde está a justiça divina?
Quando questionamos a aparente incoerência divina, pensamos imediatamente na afirmação de que Deus é "a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas". Isto quer dizer que Deus é infalível, certo? Se ele é perfeito, não erra. É cem por cento justo e blindado a erros, certo? Só que não é uma bruta incoerência esse mesmo Deus permitir que crianças venham ao mundo com deficiência física e/ou mental?
Rejeito a ideia de punição quando ocorre a reencarnação de crianças com algum tipo de problema. Chegamos ao mundo com um único objetivo: evoluir. Uma criança nascida com um tipo de doença grave ou com uma séria deficiência física não significa que alguém errou “lá em cima”. Deus não foi injusto. E muito menos puniu aquele espírito reencarnado.
Imaginemos alguém que, em outra vida, tenha se desviado para um caminho ruim, muito ruim. Ao reencarnar, pode vir com características que ajudem a não repetir seus erros da outra existência. Isso não significa que Deus puniu aquela alma, mas tão somente a auxilia para que não venha trilhar os mesmos caminhos ruins da vida passada.
Imaginemos um líder religioso, dono de uma oratória e poder de convencimento inigualáveis, capaz de convencer multidões com promessas de cura que jamais aconteceram, sendo que ao mesmo tempo, tenha enriquecido com o dinheiro arrecadado de fiéis humildes e ingênuos. E tudo isso “em nome” de Jesus.
Existe forte chance de essa alma voltar na encarnação com sérias dificuldades de comunicação, talvez a fala. Só que isso não pode ser interpretado como castigo, e sim, como uma deficiência que se tornará um meio de auxiliar seu espírito na sua nova encarnação. Essa deficiência o fará refletir sobre o quanto é importante usar seus sentidos em favor do seu semelhante.
A dúvida é: aprendemos realmente alguma lição nesta vida pelos erros cometidos em outra? Tornamo-nos mais humildes? Mais generosos? Mais compreensivos? Será mesmo que aprendemos vivendo sob algum tipo de dor física? O tempo é uma ferramenta valiosa. Só as dificuldades da vida nos fazem amadurecer e refletir. O tempo é tudo, nesta e em outra vida.
Parece ser uma incoerência, mas essas dificuldades são justamente a que nos fazem mudar. Não há como não refletir sobre o que nos tornamos. Cada erro cometido é uma nova lição para que ele não ocorra novamente. Por isso, é injusto responsabilizar Deus ou maldizer a sorte.
Em todos esses casos de resgate, o tempo, o constrangimento, os obstáculos e os bons e maus exemplos nos educam. Se somos portadores de algum tipo de deficiência, mais se faz necessária uma profunda reflexão, invés de responsabilizar Deus ou maldizer a falta de sorte. Não existe sorte, existe resgate. Existe a escolha de um novo caminho, distante das ações ruins cometidas em outra vida.
As pessoas que nascem com algum tipo de deficiência exigem os cuidados de alguém por elas. E se você cuida do deficiente, lhe dá atenção e carinho, você também está resgatando algo que lhe faltou em outra existência. O cuidador e quem necessita de cuidados estão no mesmo processo de evolução espiritual. São espíritos em processo de evolução. Ambos.
Ou por acaso, quem acompanha o processo de um parente portador de Alzheimer não sofre quase tanto quanto o doente? Quando cuidamos dessas pessoas, é um espírito zelando por outro, incapacitado. É uma oportunidade ímpar, por mais estafante que seja. É a oportunidade de praticarmos o bem, ao mesmo tempo em que evoluímos.
A verdadeira bondade é amar as pessoas mais do que elas merecem. Bom não é ser importante. Importante é ser bom.
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