Mas ainda sou da tese de que a alegria está naqueles dias que não são reconhecidos por números, mas por históriasArte: Paulo Márcio

Março teve o Dia das Irmãs. Curiosamente, a data não consta no Google nem na folhinha, como se dizia antigamente. Afinal, nem todos os momentos festivos estão oficializados no calendário — isto, além de instigante, é também mágico. De qualquer forma, posso jurar que essa celebração existiu, sim. Aconteceu em um dia comum para muita gente, mas especial para mim e para a minha irmã. Saímos para almoçar juntas, algo que raramente conseguimos fazer por conta das nossas rotinas tão diferentes.
Mas o Dia das Irmãs finalmente aconteceu. Chegando ao restaurante que já havíamos escolhido previamente, demos uma rápida olhada no cardápio e fixamos as atenções nas opções de almoço executivo, aquelas que vêm com entrada, prato principal e sobremesa. Nossas escolhas estavam ótimas — eu provei um pouco da dela e ela experimentou a minha.
Aliás, reparei no sabor do empanado do filé de tilápia que eu havia pedido. Não era igual à farinha que usamos em casa. Dissolvia na boca e tinha algo de diferente de tudo o que eu já havia experimentado. Logo, recordei a "minha" mãe — aliás, é curiosa a forma como nos apossamos de uma mãe que é a mesma dos nossos irmãos. "Vou fazer igual a ela. Vou perguntar do que é feito", comentei com a minha irmã, que não titubeou: "Ela diria assim: 'Isso é muito fácil de preparar em casa!'". Juntas, sorrimos com a cumplicidade de uma saudade em comum.
Claro que perguntei ao garçom o que tinha de tão especial naquela farinha. E deixo aqui o segredo: era uma crosta de focaccia! Com certeza, a minha mãe iria procurar a receita na Internet e tentaria fazer em casa. "Era fácil", ela nos dizia. E talvez por não ver impossibilidades nas novidades da vida, ela nos fez tão fortes.
Curiosamente, aquele dia nem era uma quinta-feira, quando o tradicional #tbt toma conta das redes sociais e nos instiga a saudar a nossa memória. Também já havia passado o Dia da Saudade, estipulado no calendário como 30 de janeiro. Mas gosto dessa ideia de desafiar as datas oficiais. Talvez os momentos mais belos sejam os vividos fora das convenções. A saudade, aliás, é especialista nisso.
Sou mesmo fã de tudo que nasce do desejo genuíno e não do que o calendário nos impõe. Assim, estava brindando outro dia à delícia de estar de folga, com a chance de ver mais capítulos de uma série e de assistir a um filme. Aconteceu em um sábado, mas poderia ter sido em uma terça-feira — como trabalho em esquema de plantão, às vezes folgo durante a semana.
É claro que aceito e também me guio pela cronologia universal. Mas ainda sou da tese de que a alegria está naqueles dias que não são reconhecidos por números, mas por histórias. Pode ser aquele em que choramos de tanto rir, em que vimos o sol se pôr ou nascer, em que assistimos a um filme que amamos ou até que não curtimos. Enfim, uma folhinha recheada por memórias é sempre mais bela do que a previamente marcada por datas festivas. Março teve, sim, o Dia das Irmãs. E hoje pode ser um domingo de lembranças além da distribuição de chocolates. Felizes sejam os acontecimentos!