Lulu Santos se apresentou com o show 'Barítono', no Qualistage, na Barra da TijucaArte de Kiko com fotos de Babi Furtado e Dantas Jr.

Sei direitinho a roupa que vestia quando fui a um show do Lulu Santos pela primeira vez. Era por volta dos meus 30 anos, nas noites cariocas de verão que agitavam o Morro da Urca. Eu usava calça jeans e uma blusa em tom cereja, uma lembrança que já transformei em escrita anteriormente. Hoje, aos 46 anos, sinto que eu era uma espectadora tímida na plateia, de gestos contidos e poucos passinhos. Em algum momento da vida, eu limitava os movimentos de alegria e descontração.
Mas Lulu sempre nos disse que "todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite". Assim, em alguma fase da vida, passei a desejar outros sábados diferentes daquele, como aconteceu recentemente em mais um show dele, em uma casa de espetáculos na Barra da Tijuca. Por alguns momentos, senti que éramos só eu e ele em um reencontro. Mas era só olhar para o lado para perceber que eu fazia parte de uma multidão que cantava, aplaudia e jogava as mãos para o alto. Também fiz tudo isso, livre das amarras que me continham. Teve até dancinha sincronizada, com passos para um lado e depois para o outro. Eu dancei! Parece banal, mas quantas vezes temos a chance de sair bailando por aí? A dança é uma bela expansão do corpo — que felicidade é praticá-la!
Nesse show, as músicas de Lulu Santos também ganharam novo sentido dentro de mim. "Não vou sobrar de vítima das circunstâncias": hoje eu entendo e vivo esse verso. Por mais difícil que tenha sido, foi na ação e não na vitimização que eu mudei. Assim, a cada canção, eu me emocionava de fato. Por muitas vezes, também me senti a última romântica. Ainda bem que me enganei: só precisei procurar o amor em novas paragens.
Aliás, como Lulu Santos canta esse afeto de forma tão bela! O show se passava e eu só concordava ainda mais com ele. Eu também "não sei viver sem ter carinho". Sim, é a minha condição para existir! Por outro lado, em algum momento da vida, já suspirei aliviada por não desejar um amor: "Apenas não te quero mais". A multidão, que cantou fortemente esse refrão, também concordou. E, claro, eu acredito em "gente fina, elegante e sincera".
Mas algo além das músicas me chamou a atenção. Do palco, Lulu Santos nos chamou para uma conversa: começou falando sobre autoconhecimento e explicou o porquê do nome da turnê ser 'Barítono'. Ele contou que tudo se tornou mais fácil ao se aceitar como um cantor com voz grave. Na pista, no meio da multidão, eu concordei de novo com ele: realmente, a gente descomplica a vida ao ver beleza na nossa essência. Hoje, sou feliz por ter reencontrado a minha. Por me permitir jogar de corpo e alma em um show. Por dançar, cantar bem alto, erguer as mãos e me esquecer de que os meus pés vão reclamar de cansaço após mais de duas horas de espetáculo. Por transformar em escrita os meus sentimentos.
Aliás, ao tentar registrar um trechinho do espetáculo, saí pulando no refrão e a filmagem virou uma mescla de teto e chão, toda tremida. Justamente por isso, vou guardá-la com felicidade. Talvez mais do que outras consideradas "perfeitinhas". Navegar eu quero! Afinal, somos todos descobridores dos mares da vida.