Sinto que podemos estar distante do Rio Grande do Sul no mapa, mas bem perto através da empatia. Este sentimento, aliás me remete à chance de sermos solidários a alguém mesmo sem ter como de fato estar em seu lugarArte: Kiko

Diante da tragédia vivida no Rio Grande do Sul, as palavras me faltam. Começo a escrever este texto buscando os termos mais adequados, as frases mais sutis, os parágrafos mais respeitosos, a acentuação menos invasiva. Em respeito a um povo que perdeu tudo. É preciso abraçar com cuidado a dor do outro. Ao mesmo tempo, as interrogações são múltiplas nos meus pensamentos. É mesmo uma procura por palavras que possam apaziguar em vez de acirrar ânimos.
Imagens da catástrofe vivida pelos gaúchos passam a todo instante na nossa frente: pela televisão, pelo celular, pelo jornal impresso, nas conversas do dia a dia. Quantos planos para hoje, Dia das Mães, foram interrompidos? Vejo o caso de uma mãe de Canoas que procura uma de suas filhas gêmeas, de apenas sete meses. A menina está desaparecida após o barco que resgatou a família na enchente ter virado. Leio sobre a filha que viveu momentos de angústia quando a mãe lhe disse que a bateria do celular estava acabando e ficou sem comunicação enquanto a água não dava trégua. Até o reencontro, as duas viveram momentos de muita angústia.
Tudo isso me chamou a refletir, a escrever, a me solidarizar, por mais difícil que seja buscar as melhores palavras, se é que elas existem em situações assim. Sinto que podemos estar distante do Rio Grande do Sul no mapa, mas bem perto através da empatia. Este sentimento, aliás, me remete à chance de sermos solidários a alguém mesmo sem ter como de fato estar em seu lugar. É doloroso demais saber que sonhos e realidades foram devastados, que há desaparecidos, que famílias buscam seus entes queridos, que falta água potável e essencial à vida. Faltam lares.
Há um povo que precisa de tudo. Menos, é claro, de fake news, que inacreditavelmente aparecem em um momento de tanto sofrimento. Aliás, se não espalharmos notícias mentirosas, já estaremos ajudando. É tão cruel saber que há tanta gente sem comunicação de um lado e, de outro, há quem use essa chance preciosa para propagar a desinformação. Bom mesmo seria se fosse mentira que barcos de resgate estavam sendo saqueados em meio à tragédia.
Talvez a gente também possa contribuir se pararmos de impor as nossas "verdades". Inclusive, fico pensativa ao ver as redes sociais. Em muitos posts chamando a atenção para a tragédia no Sul, há inúmeras críticas ao outro por suas posturas. Dessa forma, eu me questiono: quando passamos a colocar os dedos em riste? Por que acirrar as disputas para ver quem está certo neste momento?
Diante de tantas perguntas, não consigo ver outras certezas agora que não sejam o acolhimento, a empatia e a ajuda de quem pode contribuir de alguma forma: financeira, em orações ou pensamentos positivos de qualquer crença. E isso me faz lembrar de uma mensagem que o Kiko, responsável por ilustrar esta crônica dominical, me enviou na semana passada: "A gente tem recebido tanta notícia difícil de assimilar... A gente tem que achar uma janela, um lugar para a gente olhar e ter um alívio".
É evidente que há a responsabilidade dos governantes e temos o direito e dever de cobrar por políticas públicas eficazes. Mas eu sinto que, de algum modo, por menor que seja, a gente também pode ajudar a construir essa janela chamada esperança.