Sou assim: boba, dramática e chorona em alguns momentos... Falho ao tentar fazer uma pose em grupo ou em dar conta de tudo — ufa, que alívio!Arte: Paulo Márcio

Outro dia, o Facebook me mostrou uma lembrança dos meus tempos de repórter esportiva. O registro era da cobertura dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, no México. O Brasil havia acabado de conquistar sua milésima medalha na história da competição. A marca veio com o ouro da equipe masculina de ginástica artística liderada por Diego Hypólito. Assim, os jornalistas que estavam no ginásio se reuniram para uma foto na tentativa de simbolizar o feito histórico. A ideia era que eu e mais quatro repórteres indicássemos com a mão os números que pudessem compor 1.000. Eu era a última da turma e, portanto, responsável por fazer um dos zeros.
No entanto, em um dos primeiros cliques, eu me enrolei de tal forma que fui flagrada olhando para a minha mão e tentando entender como fazer o numeral. Depois, refizemos o registro e eu, enfim, acertei. Mas lembro que, na época, uma amiga chegou a publicar a foto em que eu errava e fiz questão de colocar a "certa" em seguida para dizer que, sim, eu tinha feito de maneira correta. E foi a foto da minha falha que o Facebook me lembrou.
Hoje, fico rindo sozinha dessa história, como faço agora, diante deste texto. Eu tinha tanto medo de destoar do grupo que eu precisava dizer que eu não tinha estragado o clique. Aliás, era importantíssimo sair bem na foto, seja ela qual fosse. Treze anos depois, penso em como fiz as pazes com os meus erros mais bobos como os desse registro. Também me apaziguei com situações da vida em que eu me culpava por ter sofrido. Afinal, aprendi que não posso cobrar do meu passado uma postura que eu teria agora, depois de tantos anos vividos. O tempo é uma distância perfeita para nos acalmar.
Uma tática das boas, aliás, é rir de mim mesma. Ou jogar luz justamente sobre as qualidades que já foram criticadas em mim — e que aprendi que não são erradas, mas que constituem a minha personalidade e me fazem diferente. Se sou chorona assumida, em vez de me lamentar por isso, digo às amigas que podem me chamar para derramar lágrimas com elas.
Se sou dramática — desde os tempos em que os meus irmãos escolhiam presentes antes de mim no shopping e eu ficava com cara emburrada —, eu vou logo alardeando sobre isso. Assim, faço drama nas séries da academia com o professor. Ou vou à manicure e também faço caras e bocas quando chega a hora de tirar um cantinho da unha mais dolorido. Sou canceriana e isso explica esse meu lado teatral.
Hoje, sou notada e não tenho mais tanto problema com isso. Tenho traços marcantes — e não são estéticos. Aliás, só fui me dar conta disso em uma sessão de terapia quando destaquei justamente essa característica em uma amiga. De volta, ouvi: "Mas você também tem personalidade forte". De tanto insistir em não destoar da cena, às vezes nem me dou conta de que deixei a neutralidade para trás.
Sou assim: boba, dramática e chorona em alguns momentos... Falho ao tentar fazer uma pose em grupo ou em dar conta de tudo — ufa, que alívio! E tudo isso me faz lembrar uma música que amo na voz de Pitty: "O importante é ser você/ Mesmo que seja estranho/ Seja você/ Mesmo que seja bizarro..."