É muito bom ter essa sensação sem precisar ouvir do outro que "isso não é nada, é coisa boba, já já passa, você vai ver". Arte: Paulo Márcio

'Eu entendo você. A gente fica um pouquinho triste quando está assim, né?' A constatação, nascida em mais uma reunião de família, virou aconchego para o meu coração. Afinal, eu já cheguei ao encontro comentando sobre um incômodo que vinha sentindo nas costas e que me fez comprar uma nova cadeira para trabalhar em home-office. Aquele desconforto constante me deixou irritada, a ponto de assuntos que naturalmente receberiam a minha atenção terem perdido parte da sua importância naqueles dias. Acontece em momentos de dor, das menores para maiores, das físicas para as emocionais.
Aquela constatação sobre ser "um pouquinho triste" ficou ecoando dentro de mim. Enquanto a família se reunia perto da churrasqueira, eu pensava que alguém me entendia. Não que as outras pessoas não tivessem dado importância à minha queixa, mas é diferente quando encontramos alguém que já passou por algo parecido. A compreensão fica mais próxima. E era nisso que eu pensava enquanto um falava sobre um assunto, o outro pedia o refrigerante, um terceiro colocava o molho à campanha e a farofa na mesa e, de repente, surgia alguém estendendo um prato com pão de alho. Aliás, esse ambiente todo também é um belo abraço.
No meio dessa reunião descontraída, eu cultivei o sentimento de ser entendida. É muito bom ter essa sensação sem precisar ouvir do outro que "isso não é nada, é coisa boba, já já passa, você vai ver". O "eu te entendo" tem a magia de surgir em assuntos mais leves também. Foi o que aconteceu certa vez em que fui a um evento cultural admirado por muita gente e aclamado pela crítica. Eu reconheci a beleza do que estava vendo, além da importância e da técnica do que era apresentado. Mas talvez eu tenha criado uma expectativa enorme por algo que não me arrebatou. Só revelei isso ao meu namorado no dia seguinte. Como uma confissão mesmo, no melhor estilo "eu sou diferente" dos demais.
Uns dias depois, também pude compartilhar essa sensação com outra pessoa e ouvi como resposta: "Eu entendo você. Eu já assisti a esse evento e também não me arrebatou". É incrível saber que alguém compartilha de sentimento semelhante, independentemente do que seja.
Quando as dores surgem, especialmente aquelas maiores e difíceis de cicatrizarem, ser entendido é ainda mais grandioso: é um afago na alma. Já pude estender a mão para pessoas que viveram experiências parecidas com as que eu tive. E só pude fazer isso porque entendia como o outro se sentia de fato. A vida é mágica por isso: todos nós vivemos histórias únicas, mas é muito possível que haja um ponto comum entre elas. Somos unidos pelas alegrias e dores da nossa estrada.
Também me lembro exatamente de uma vez que compartilhei na terapia o abraço em forma de palavras que havia recebido de uma amiga ao lhe contar sobre um momento estressante que eu estava vivendo. "Te entendo": foi simplesmente o que ela escreveu na mensagem que guardo até hoje. Ela não apresentou a solução para o meu problema, não disse que ele iria sumir de vez e que no outro dia eu já seria outra pessoa. Ela simplesmente me entendeu. Às vezes, isso é tudo de que precisamos. Há um poder curativo quando alguém nos compreende e não julga nossos sentimentos. A gente se sente até melhor quando o outro diz que está tudo bem em ficar um pouquinho triste ou triste demais.