Ah, a praia também tinha conchinhas e sua água era cristalina! Mas preferi não sair registrando tudo no celular para gravar melhor na almaArte: Kiko

A menina que vestia uma blusa de listras horizontais e coloridas foi a primeira a me chamar a atenção naquela manhã na Praia João Fernandinho, em Armação dos Búzios, ou simplesmente Búzios. Sua vestimenta me remetia a um arco-íris, daqueles que aparecem após a chuva e nos fazem lembrar que além do horizonte há uma nova vida. A garotinha, que talvez tivesse uns sete anos, usava mangas compridas, assim como a minha irmã passou a fazer com os meus sobrinhos quando eles eram menores. São tecidos específicos para proteger a pele do sol, ainda mais quando somos pequenos e adoramos brincar por horas sem nos preocupar com queimaduras.
Foi assim que os meus olhos capturaram imediatamente aquela garotinha fazendo um desenho à beira da água. Parecia uma espécie de asas traçadas pelas suas mãos na areia. Logo a água apagou a imagem recém-criada, mas nada que lhe tirasse a alegria. Eu estava sentada em uma cadeira bem de frente para o mar e cheguei a fechar os olhos por alguns instantes tentando capturar aquele barulhinho de ondas indo e vindo, como se pudesse colocar o som em uma caixinha de músicas para ouvi-lo sempre que possível. De certa forma, sou capaz de fazer isso, ao rememorar aqueles instantes, como agora.
Ainda reparei em duas irmãs, também crianças, vestidas de biquíni igual. Não eram gêmeas, no entanto. Nitidamente, alguns anos a separavam. A menor ainda usava fralda. Ela me lembrou muito de um vídeo do meu sobrinho mais velho, hoje com 18 anos. Na gravação, ele aparece ainda bebê, de fraldas, indo e vindo com um certo nervosismo à beira da água, em uma descoberta de como o mar e o mundo são imensos. Muitos anos depois, ele aprendeu a surfar, em uma prova de que a gente cresce e a vida muda. Sua relação com aquela imensidão azul se modificou, mas sem perder o respeito por ela.
Aquela irmã caçula também me fez reavivar uma memória que tenho das crianças. Geralmente, assim que chegam à praia, elas querem ir logo para a água e perguntam quem vai junto com elas. Era assim que aquela pequena fazia. Chamava a mãe, que por sua vez pedia que ela tirasse a fralda. Tentou até que a filha mais velha convencesse a mais nova. Perguntei os nomes das duas, mas os reservo para mim por serem menores.
Enquanto os pais ainda estavam se fixando na areia antes de curtir a praia, perguntei para a mais nova se a água estava fria e ela me garantiu que não. Quando, enfim, resolvi dar um mergulho, notei que o mar era gélido! E brinquei com ela: "Você me disse que a água não estava fria!". O pai, que já a acompanhava, brincou: "Essa é a mentira que eu mais ouço". O bom é que, depois do primeiro mergulho, a gente se acostuma e pensa: "Que bom que eu vim!".
Ah, a praia também tinha conchinhas e sua água era cristalina! Mas preferi não sair registrando tudo no celular para gravar melhor na alma. Também me chamou a atenção que a pequena se animou quando uma criança de outra família chegou à praia. Empolgada, ela queria logo brincar com a mais nova companhia, mas a mãe a advertiu: "Deixa a amiga passar filtro solar". Como eram bons os tempos em que fazíamos amizade facilmente, sem tantos "pés atrás" por conta dos anos que nos deixam calejados. Como era deliciosa a época em que brincávamos de baldinho e pá na areia, como fizeram aquelas meninas. Como era boa a época em que eu só queria curtir a praia, mergulhar e não estava preocupada com as celulites ou o formato do meu corpo.
Naquele dia, eu revivi um pouco disso com a pele de quem sou hoje: uma curiosa por histórias. Fui e voltei do mar com várias delas para contar. Como a do senhor italiano casado com uma mineira que passava férias por esses cantos.
Agora, escrevo este texto no quarto da pousada, após amanhecer ouvindo pássaros. Vou partir em uma hora mais ou menos e quero levar daqui o barulho das ondas se desfazendo na beirinha da praia, a alegria das crianças brincando na areia e a crença de que podemos fazer novas amizades. Além, é claro, da mentirinha de que a água não está fria. Assim, convencemos o outro a mergulhar por novos mares da vida. Feliz 2025!