Na chegada, recebemos colares de havaiana, que me remetem à Ilha da Fantasia, seriado de televisão que marcou uma fase da minha vida e se passava em um local paradisíaco, onde qualquer desejo poderia ser realizadoArte: Kiko

Comecei o ano vendo uma cena bonita e simples nas redes sociais, do jeitinho que eu vejo beleza no mundo: com singeleza e afeto. Era a imagem de uma querida companheira de profissão com o seu filho em meio à natureza. Não a vejo há muitos anos, mas fico acompanhando de longe suas postagens. Sinto que ela e o filho são parceiros, não só nos passeios, mas na rotina diária, nas tarefas escolares e na torcida pelo clube de coração. Aquelas fotografias me levaram a deixar um comentário no clique, apostando que daqui a muitos anos seu filho ainda vai se lembrar desses momentos.
Ela me respondeu dizendo que eu tenho um olhar sensível para a vida e comentou que ter a chance de ver o filho crescendo é uma benção divina. Eu concordei! E fiquei pensando que a minha sensibilidade para as coisas simples já nasceu comigo. Não precisei treiná-la. Talvez ela tenha sido reforçada pelas minhas experiências desde que cheguei a esse mundo. Afinal, tenho boas memórias de momentos vividos lá atrás.
São recordações de viagens e também da vida cotidiana. Lembro que meus pais tiveram uma Belina, um carro bem grande. Pelo menos na minha imaginação ele era enorme. Hoje, vejo que o veículo era tão espaçoso quanto a disposição deles para reunir pessoas. Quando viajávamos para a Região dos Lagos, nunca estávamos sós. Os amigos sempre iam. Tanto os dos meus pais, que tinham filhos, e os nossos.
A ida, aliás, era uma festa, mesmo com os quilômetros de engarrafamento que costumam marcar as viagens para a Região dos Lagos em períodos de Carnaval, por exemplo. Durante muitos anos, a minha mãe lembrava que a minha avó, mãe dela, tentava entreter eu, minha irmã e meu irmão durante o percurso da Baixada até lá. Ela dizia que o congestionamento era uma parte da farra e, sem ele, a experiência nem seria tão legal assim. Acho que a gente acreditava! E isso me faz recordar certa vez em que fui ao cinema com a minha irmã e os meus dois sobrinhos, que ainda eram crianças. Só tinha lugar na primeira fila, de cara com o telão. Quando eles se deram conta, minha irmã disse: "Olha que legal! Ficamos pertinho".
Ainda sobre as viagens para a Região dos Lagos, imagino que a gente dormisse em colchonetes. Afinal, até hoje tentamos descobrir como éramos tantos em uma casa só. Era a época em que eu via tatuí na praia e também a planta dormideira. Era uma diversão boa colocá-la para adormecer!
No ano passado, inclusive, achei uma foto da minha mãe em uma época que íamos para um sítio. Já não sei exatamente onde está esse clique, mas devia ser de algum aniversário. Talvez até mesmo o dela. Na imagem, a minha mãe estendia a mão com um pedaço de bolo para um dos convidados. E a vida era assim: oferecendo espaço e lembranças ao outro.
Também lembro que desde essa época do sítio, batizado com o nome do meu avô paterno, meus pais passaram a dizer que ter piscina pode ser incrível, mas não compensa por conta do trabalho que dá para cuidar de toda a estrutura. Assim, são duas alegrias: quando você passa a tê-la e quando você se despede dela. No entanto, nunca foi por falta de uma dessas, feita de azulejos, que a gente deixou de se divertir. Sempre coube felicidade nas piscinas de plástico montadas no quintal, até mesmo quando os meus sobrinhos vieram.
De viagem em viagem, também me recordo de uma ida a uma ilha na região de Mangaratiba. Éramos muitos também! Na chegada, recebemos colares de havaiana, que me remetem à Ilha da Fantasia, seriado de televisão que marcou uma fase da minha vida e se passava em um local paradisíaco, onde qualquer desejo poderia ser realizado. Bem diferente da vida real, em que a gente cresce e se dá conta de que nem tudo é possível. Luxo mesmo é ter algo belo e simples para lembrar, como a parceria entre mãe e filho que me encantou de longe e me fez escrever este texto.