Lá fomos nós, em um shopping de Caxias, ver as aventuras do ouriço azul, famoso nos jogos de videogame. Chegamos a tempo de ainda passar em uma loja para comprar balas — uma delas tinha a temática do 'Harry Porter', com formato de raiosArte: Paulo Márcio

Em uma dessas manhãs de verão, a trilha sonora no salão onde faço as unhas era "sofrência". Sei de cor várias músicas da saudosa Marília Mendonça, mas confesso que desconhecia as que tocavam naquele momento. Um cliente, sentado na cadeira da cabeleireira, até reparou no repertório sobre os desencontros e as dores do amor. Papo vai, papo vem, eu comentei: "Estou doida para ver 'Mufasa' no cinema". Pronto! Foi o bastante para uma manicure dizer que queria levar o filho para assistir ao filme, enquanto a que cuida das minhas unhas entoou canções que marcam os filmes infantis. Teve até a música de 'Aladdin': "Um mundo ideal/ É um privilégio ver daqui...". Seguimos falando sobre animações e recordamos também a beleza de 'A Vida é uma Festa', que fala de maneira poética sobre a morte. A cena do menino Miguel com a sua bisavó, a Mamá Coco, estava bem viva na nossa memória.
Guardei aquela manhã no salão na lembrança até que, dias depois, sem nenhum planejamento, surgiu a chance de ver 'Sonic 3', ao lado do meu sobrinho mais velho, hoje com 18 anos. Quando estava me arrumando para ir ao cinema com ele, pensei que não posso mais dizer que vou levá-lo a determinado lugar. Como ele não é menor de idade, me soa estranho falar isso. O mais certo é que ele estava me conduzindo para um momento de lazer, com a sua companhia.
Lá fomos nós, em um shopping de Caxias, ver as aventuras do ouriço azul, famoso nos jogos de videogame. Chegamos a tempo de ainda passar em uma loja para comprar balas — uma delas tinha a temática do 'Harry Porter', com formato de raios. Na fila para pagar os produtos, ele me perguntou: "Qual crônica vai sair deste nosso passeio aqui?". Não soube responder na hora, mas fiquei matutando sobre o assunto.
Partimos, então, para o cinema — a classificação indicativa é de 10 anos. Antes, no entanto, passaram os trailers de filmes que estão ou ainda vão entrar em cartaz. 'Lilo e Stich' era um deles. No telão, a expressão usada na animação foi destacada: "'Ohana' quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer'. Inclusive, eu tenho uma pipoqueira elétrica com a imagem do Stich. Acho fofa!
'Sonic 3', então, começou. O ouriço azul foi novamente recrutado para combater o mal. Desta vez, o ator Jim Carrey empresta toda a sua irreverência a dois personagens: o vilão, o cientista Doutor Eggman (pseudônimo do Dr. Robotnik), e seu avô, Gerald Robotnik. Os dois com enormes bigodes. O filme também traz a história de Shadow, um ouriço que aparece como um anti-herói movido por conflitos pessoais do passado. Uma das cenas mais lindas é quando a menina Maria, com quem Shadow foi criado, lhe diz: "A luz brilha mesmo que a estrela tenha se apagado".
Isso me remeteu imediatamente a uma passagem de 'O Rei Leão'. Quando Mufasa promete ao filho que estará sempre no céu para guiá-lo, diz que aprendeu aquela história com o seu pai. Assim, ao acreditarem que os "grandes reis do passado estão nas estrelas", as novas gerações de leões parecem lidar com a saudade dos que já partiram.
Saímos do cinema, compramos um lanche para viagem, e voltamos para casa. Ao estacionar no quintal, meu sobrinho me disse com o seu habitual humor: "Espero que saia uma crônica desse nosso passeio. Senão, vou me sentir desprestigiado". Saiu o texto, sim! Ele está aqui. Com estas palavras, tento traduzir a minha alegria em viver momentos que poderiam se repetir mais vezes, comprando balas em formato de raios, torcendo por um ouriço azul e vendo o bem vencer o mal. Talvez seja por isso que as animações conquistam tantos corações. Como aprendemos em 'O Rei Leão': "Hakuna matata!". Ou seja, sem problemas. Pelo menos por duas horinhas.