Há quem olhe para o tempo como inimigo: ele passa rápido demais, leva embora oportunidades, deixa marcas no corpo e parece sempre nos cobrar mais do que conseguimos entregar. Mas, quando olhamos com cuidado para a natureza e para a própria vida, percebemos exatamente o contrário: o tempo não é um carrasco. Ele é um aliado silencioso de quem sabe o que quer e de quem decide caminhar com intenção.
Na natureza, nada acontece por acaso. A semente não vira árvore de um dia para o outro, a estação não muda por capricho, os ciclos são respeitados, mesmo quando não os entendemos totalmente. Há um princípio simples por trás disso: processos. Nada de sólido se constrói sem eles. E é justamente aqui que entra algo que, por medo ou preconceito, muita gente evita: a ambição. Ambição, no seu sentido mais nobre, não é pisar em ninguém, não é viver obcecado por status, poder ou aplausos. Ambição, na sua forma saudável, é o desejo profundo de superar a mediocridade, de romper com a monotonia previsível, de não aceitar uma vida que apenas “vai acontecendo” por acaso, coincidência ou empurrão alheio. É a recusa de viver no piloto automático.
Ter ambição é olhar para si e perguntar com honestidade: “Que resultados eu quero gerar para mim?”, “Que impacto eu desejo causar na vida dos outros?”. Sem esse mínimo de inconformismo, a vida tende a virar um roteiro repetido: acordar, trabalhar, sobreviver, reclamar, dormir e recomeçar. É justamente a ambição bem orientada que nos impede de aceitar esse ciclo como destino inevitável.
Mas só querer não basta. Desejos vagos, por mais bonitos que sejam, não pagam contas, não constroem caráter nem mudam realidades. Existe uma distância enorme entre aquilo que imaginamos e aquilo que, de fato, fazemos. É aí que o tempo deixa claro quem está apenas sonhando e quem está, de fato, plantando. Sabedoria antiga, presente em textos que atravessam séculos, repete a mesma lógica: colhe-se o que se planta; quem enterra talentos fica para trás; quem administra bem o pouco se torna capaz de receber mais. Não é religião, é prática de vida. O tempo, por si só, não melhora ninguém. O que nos transforma é o que fazemos com ele.
Por isso, antes de falar de metas e resultados, é necessário dar um passo anterior: entender onde você está. Em que ponto da sua história você se encontra? Quais padrões se repetem? O que você está tolerando hoje que não deveria mais aceitar?
Sem essa clareza, qualquer plano vira apenas lista bonita em caderno novo. Saber onde se está é olhar para as próprias incoerências, admitir erros, reconhecer limites, mapear potencialidades e, principalmente, abandonar a ilusão de que “as coisas vão se resolver sozinhas”. Circunstâncias não podem ser o centro do enredo da nossa vida. Depois, é preciso definir para onde se quer ir. Não como quem faz um pedido a uma estrela cadente, mas como quem assume responsabilidade. Precisa ser concreto o suficiente para que suas atitudes diárias possam ser confrontadas com ele. Se o seu objetivo não tem impacto concreto no seu dia, ele é apenas um desejo simpático, não um compromisso real.
Nesse ponto, a ambição saudável nos obriga a traduzir os desejos mais obscuros em atitudes claras: aprender uma habilidade nova, concluir um curso, mudar um hábito nocivo, construir uma reserva financeira, melhorar a qualidade das suas relações, cuidar do corpo, organizar a mente. Pequenos passos, repetidos com constância, produzem grandes mudanças. A natureza nos ensina isso todos os dias, em silêncio. Não se trata de acreditar que tudo está sob nosso controle, porque não está , mas de entender que nada de significativo floresce na passividade absoluta. A vida não é uma grande loteria em que alguns “sortudos” são sorteados e os demais apenas assistem. Ela segue princípios, caminhos, causas e efeitos. Somos atravessados por imprevistos, sim, mas não somos marionetes do acaso. Somos, em grande parte, resultado das escolhas que repetimos.
Por isso, recomendo que você se permita um pouco mais de ambição. Ambição de viver melhor, pensar melhor, sentir melhor, contribuir mais. Ambição de organizar o caos interno, de colocar nome nos seus medos, de encarar conversas difíceis, de fazer o que precisa ser feito mesmo quando ninguém está aplaudindo. Tenha ambição de ser alguém que, ao olhar para o próprio tempo, não veja apenas dias passando, mas capítulos sendo escritos com algum propósito. Ambição de não terceirizar o comando da sua história para circunstâncias, notícias ruins ou opiniões alheias.
No fundo, a grande virada acontece quando entendemos que o tempo não é o antagonista da nossa vida, mas o cenário em que nossas decisões vão ganhando forma. É ele que revela se o discurso combina com a prática, se o sonho tem raiz, se a intenção se transformou em gesto concreto. Enquanto muitos esperam um golpe de sorte, talvez o primeiro passo seja outro: parar, reconhecer onde está, decidir para onde vai e assumir a responsabilidade de caminhar. O tempo fará o que sempre fez: passar. A questão é o que você fará enquanto ele passa.
Se a natureza respeita seus ciclos, talvez seja a hora de você respeitar os seus, e com um pouco de ambição nobre, dar ao seu tempo a dignidade de uma vida que não é obra do acaso, mas fruto de escolhas conscientes.
Vamos Orar: Senhor, dá-me clareza para reconhecer o tempo em que estou, sabedoria para escolher o caminho certo e coragem para agir com propósito. Que eu não desperdice meus dias, mas transforme cada ciclo em crescimento, cada decisão em colheita e cada passo em direção ao destino que o Senhor preparou para mim. Em nome de Jesus. Amém.
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